quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Projeto MATERNAR - Notícias

O Projeto MATERNAR após a capacitação dos profissionais da rede pública de saúde, implantou o trabalho com os Grupos de Gestantes nas salas de espera da consulta pré-natal nas Unidades de Saúde. Os grupos contam com a parceria do departamento de Odontologia, Fsioterapeutas, Psicólogos, Nutricinosta, Fonoaudiólogo, Terapeuta Ocupacional, Asistente Social e Enfermagem e está aberto a novas contribuições de outros profissionais.
Mais uma ação do Projeto MATERNAR dentro da iniciativa da REDE AMAMENTARAXÁ: Certificação do Selo Empresa Amiga da Amamentação, Escola Amiga da Amamentação, Farmácia Amiga da Amamentação e Centro Universitário Amigo da Amamentação. Previsto para 26 e 27 de novembro próximo a Capacitação de Agentes do Aleitamento Materno para Araxá e microrregião. Esta capacitação tem como público alvo, os profissionais da Rede Pública de Saúde,Vigilância Sanitária, Desenvolvimento Social, Conselho Tutelar, Vovós Amigas da Amamentação, Agentes Comunitários (pastorais, centros espíritas e outras igrejas), Ministério Público, Estudantes da área de Saúde e profissionais dos Hospitais. Esta capacitação visa o resgate da prática do Aleitamento Materno no município de Araxá e microrregião. Os profissionais e agentes capacitados e atualizados no Manejo Clínico Integral da Amamentação poderão prestar assistência às famílias e nutrizes evitando o desmame precoce, a desnutrição e a morbimortalidade infantil.
Aproveitamos o ensejo para agradecer o apoio que o Projeto MATERNAR tem tido do Sr. Prefeito Jeová Moreira da Costa e do Sr. Secretário Municipal de Saúde Antônio Marcos Belo.

Angela Maria Amancio de Ávila

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Curso: “A CLÍNICA DA SAÚDE MENTAL – CAPS E REFORMA PSIQUIÁTRICA”

Olá, pessoal.
Está surgindo uma oportunidade imperdível, principalmente para a equipe que trabalhará no Caps em Araxá. Vejam se vocês conseguem se organizar para participarem dessa formação em Frutal.
Por favor, repassem aos demais colegas (de toda a rede).
Obrigada.
Abraço, Samara.

O Instituto Gregório Baremblitt - Rua Antônio de Paula, n°4 – Centro – Frutal/MG - CEP 38200-000. Convida:
Curso: “A CLÍNICA DA SAÚDE MENTAL – CAPS E REFORMA PSIQUIÁTRICA”
CARGA HORÁRIA: 40 HORAS, DIVIDIDOS EM 5 ENCONTROS DE 8 HORAS.
PROFESSORES: JORGE ANTÔNIO NUNES BICHUETTI (Diretor Clínico e Psiquiatra do NAPS “Maria Boneca”); MARIA DE FÁTIMA OLIVEIRA (Coordenadora e Psicóloga do NAPS “Maria Boneca”) da Fundação Gregório Baremblitt em Uberaba.
Objetivos:
1. Capacitar intervenções na clínica da crise e da psicose;
2. Desenvolver manejo de grupo psicoterápico e de oficinas terapêuticas;
3. Compreender a lógica do hospício e o modo de ver e agir da clínica antimanicomial;
4. Instrumentalizar práticas clínicas e sociais com família e comunidade;
5. Subsidiar leituras, intervenções e a produção de vida na lida com o sofrimento mental grave;
Conteúdo:
Dia 28 de novembro de 2009 (último sábado do mês):
a) Crise e desinstitucionalização. Cuidado antimanicomial. Lógica do hospício. Cuidado de crise. Acolhimento e vínculo.
b) Caps. Reforma Psiquiátrica. Convivência. Maternagem e trocas solidárias. Transferência e transversalidade. Exercícios: cuidando de crise.
Dia 19 de dezembro de 2009 (último sábado útil do mês):
a) Clínica da Psicose.Freud, Basaglia e Deleuze-Guattari. LacanLoucura, desrazão – diferença. Outras clínicas do CAPS, do PSF e da rede básica. Psicopatologia – dinâmica dos transtornos mentais.
b) Grupalidade. Freud, Bion, Pichón-Riviere, Sartre e Deleuze-Guattari. Exercícios: a cena temida e bricolagem.
Dia 30 de janeiro de 2010 (último sábado do mês):
a) Oficinas terapêuticas. Repertório. Vivências.
b) Família – equipe – gestão. Exercícios: construindo oficinas para o dia-a-dia.
Dia 27 de fevereiro de 2010 (último sábado do mês):
a) Cotidiano da clínica. Situações limite e o inédito viável. Perfil da demanda. Admissão, alta. Plano terapêutico. Ética: estética e não-violência. Festas e – passeios. Atividades comunitárias. Rede e socius no Caps.
b) Reabilitação Psicossocial. Exercícios: Caçando linhas de fuga.
Dia 27 de março de 2010 (último sábado do mês):
a) Esquizodrama: Laboratório – drama do devir.
b) Teoria e prática: produzindo o novo pela experimentação. Exploração de multiplicidades. Nós e saídas. Exercícios: esquizodrama.
Entrega dos certificados assinados pelos docentes e Direção do Instituto, com 75% de assiduidade.
OBSERVAÇÃO: Todos os encontros funcionaram na seguinte dinâmica, podendo haver mudanças se o coletivo assim decidir:
c) Primeira parte do encontro, das 9:00 horas às 13:00 horas, com intervalo de 15 minutos para lanche;
d) Das 13:00 horas às 14:00 horas – almoço;
e) Segunda parte do encontro, das 14:00 horas às 18:00 horas, com intervalo de 15 minutos para lanche.
Carga horária: 8 horas/encontro, com vivências e exposição teórica.
Investimento: R$ 500, 00, divididos em cinco parcelas de R$100,00.
Data limite de inscrição: 20 de novembro de 2009.
Local do Curso: Rua Antônio de Paula, n°4 – Centro – Frutal/MG - CEP 38200-000.
Comissão Organizadora e Contato para Inscrições: Arlete Borges de Morais (tel.99956847); Celso Peito M. Filho (tel.99944041); Bernardino Lopes Neto (tel.99252396), Simone A. Cavalcanti (tel.96811296).

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A Discussão do Sofrimento, o Adoecimento e as Emoções na Atenção Primária

“Em nenhum outro espaço institucional o sofrimento, o adoecimento e as emoções cheguem tão intensamente perto do profissional de saúde quanto na atenção primária”.
A frase é de José Ricardo Ayres, professor do Departamento de Medicina Preventiva da USP, ao ser questionado pelo BoletIn sobre sua participação na mesa “Sofrimento, adoecimento e emoções na produção do cuidado: o usuário, o profissional e o professor numa hora dessas?" e ressaltar a importância de entender o diverso espectro de necessidades de saúde que experimentam hoje as populações usuárias dos serviços públicos de atenção primária.
Para ele, seminários sobre integralidade são um espaço privilegiado para recarregar nossas melhores energias utópicas, para reflexão, aprendizado, troca de afetos os mais positivos entre pessoas de perfis diversos, “mas interessados todos em uma saúde pública, eficaz, integral, justa, humanizada”. “Sempre me surpreendo positivamente com esses eventos. Este especificamente, em articular, ao enfatizar a formação, me pegou pelo coração”. Confira a entrevista!

BoletIn: Como a sua experiência no Departamento de Medicina Preventiva da USP pode ajudar a responder à questão "Sofrimento, adoecimento e emoções na produção do cuidado: o usuário, o profissional e o professor numa horadessas"?

José Ricardo Ayres: O nosso Departamento tem uma longa tradição de fazer, pesquisar e ensinar em serviço, e sempre com uma atenção muito especial à questão da integralidade. Desde que foi fundado, em 1977, o Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa, o CS Escola do Butantã, como é conhecido, tem sido um espaço privilegiado para experimentação de modelos de atenção primária e seu ensino. Foi a partir de um modelo muito inspirado na medicina integral, inicialmente, e depois com o desenvolvimento de ações programáticas e de estratégias de saúde da família que chegamos a desenvolver o conceito de Cuidado tal como o discutimos hoje. Mais recentemente temos participado de uma experiência docente-assistencial ampliada para outras unidades básicas da região, através de um contrato de cooperação entre a Faculdade de Medicina e a Prefeitura de São Paulo, que tem sido também fonte de muito aprendizado e inspiração. Bem, se todos aqueles que ensinam saúde em situações de prática teriam muito a dizer sobre o tema, aqueles que trabalham na atenção primária por maiores razões ainda o têm. Talvez em nenhum outro espaço institucional o sofrimento, o adoecimento e as emoções cheguem tão intensamente perto do profissional de saúde quanto na atenção primária. Quando adequadamente feita, a atenção primária está ali com as pessoas, no seu dia a dia e, portanto, em contato muito íntimo com o diverso e complexo espectro de necessidades de saúde que experimentam hoje as populações usuárias dos serviços públicos de atenção primária, especialmente as mais vulneráveis e excluídas.

BoletIn: Quais serão suas contribuições no IX Seminário do Projeto Integralidade?

José Ricardo Ayres: Pretendo trazer um pouco mais dos desenvolvimentos que tenho procurado acrescentar ao quadro conceitual do Cuidado, com o qual busco contribuir para a realização do princípio da integralidade no cotidiano das práticas de saúde, em particular na atenção primária. Nesse sentido vou procurar aprofundar um pouco mais a discussão sobre a noção de "reconhecimento mútuo" com um dos elementos cruciais para o cuidado. Sem que as pessoas em interação no ato de cuidar se façam presentes, em suas condições simultaneamente singulares e compartilhadas na busca da boa saúde, é impossível que suas necessidades ganhem sentido prático na perspectiva da integralidade. Integralidade não significa dar respostas a tudo, mas dar respostas "em um todo", e essa busca de sentido para o que, como e quando fazer algo em saúde depende dessa intersubjetividade rica, desse reconhecimento mútuo. A situação se torna ainda mais delicada quando as pessoas nesta cena são usuário, professor e aluno. Pretendo ainda mostrar como é tarefa fundamental do professor transmitir ao aluno essa experiência de alteridade/identidade do usuário e de como o reconhecimento mútuo é necessário para que as tecnologias da saúde possam ser usadas para promover cuidado efetivo. Essa é uma tarefa política e ética fundamental. E ela não se restringe ao plano (importantíssimo) das relações usuário-profissional ou professor-aluno: diz respeito também à identificação de desafios prático-morais que atravessam nossas relações sociais e nossas instituições de modo amplo e radical.

BoletIn: A coordenadora do Lappis, Roseni Pinheiro, está organizando uma coletânea de seus textos. Comente essa parceria.

José Ricardo Ayres: Roseni é uma batalhadora incansável pela construção da integralidade como um princípio efetivamente operante no SUS. Ela atua em várias frentes, com um fôlego invejável. Uma delas é a atividade editorial. Então, quando Roseni me propôs publicar um conjunto de meus textos sobre cuidado, buscando com isso aumentar a circulação e discussão destas contribuições, especialmente entre alunos e profissionais que estão "chegando" na saúde, representou ao mesmo tempo motivo de muita felicidade, esperança, e responsabilidade também. Acho que o trabalho está ficando muito bonito, inclusive pela dedicação e competência de Ana Sílvia Gesteira e outros que trabalham nos "bastidores" do processo editorial e tenho uma expectativa muito positiva em relação às novas interlocuções que esta forma de veicular essa produção possa vir a produzir.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Curso de Esquizoanálise e Esquizodrama em Uberaba

Olá, pessoal!
A Fátima (Caps Maria Boneca - Uberaba) está querendo saber quem tem interesse em participar do Curso de Esquizoanálise em Uberaba, provavelmente, a partir de março do ano que vem. Ainda não tem nada fechado e dependerá do número de pessoas interessadas (35 a 40). Mais informações sobre o Curso ela ainda enviará, mas a proposta deverá ser semelhante à de BH (duração de 24 meses - 15h mensais / sexta à noite e sábado o dia todo - valor: em torno de 350,00). Os interessados enviem um e-mail para sadairel@gmail.com .
Abraço,
Samara.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Rede de Intercâmbio Sobre Boas Práticas em Saúde Mental

No segundo dia (2/10) do Seminário Internacional da Rede de Intercâmbio sobre Boas Práticas no Campo dos Serviços Sociais, de Saúde de Base e Saúde Mental, o foco das discussões ficou por conta da importância da construção e consolidação de uma Rede de Intercâmbio por meio das experiências apresentadas por atores sociais nacionais de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, e internacionais, como Argentina e Itália. Clique aqui para acessar mais informações foi o tema da primeira mesa do dia, trazendo experiências locais e internacionais como forma de fomentar o trabalho da rede. A primeira expositora foi Fernanda Nicácio, do Curso de Terapia Ocupacional, da Universidade de São Paulo, destacando que, desde o início, a experiência em saúde mental era muito inserida no conjunto de articulação das políticas públicas das cidades, e, a partir desse processo, foi criado um Laboratório de Articulação de Políticas Públicas em Santos (SP), que trouxe uma série de novas possibilidades para o campo da saúde mental, mostrando, assim, a importância da responsabilidade do poder público com a população. A segunda apresentação foi de Sandra Fagundes, do Hospital Fêmina (RS), afirmando que a Rede é capaz de produzir vida e ir contra o movimento hegemônico da saúde mental. Segundo a pesquisadora, a Rede é, ao mesmo tempo, produtora e mobilizadora para fazer com que os usuários sintam-se atores na sociedade. Em seguida, foi a vez de Ana Marta Lobosque, do Fórum Mineiro de Saúde Mental, ressaltando a importância da participação popular nesse processo. Por conta disso, destacou o sucesso da 'Marcha dos Usuários a Brasília', ocorrida no final do mês de setembro, e debateu sobre como trazer a questão da loucura para o convívio do espaço social. Encerrando a parte da manhã, a representante da Agência de Saúde de Trieste (Itália), Chiara Strutti, apresentou a história do movimento de reforma psiquiátrica na região e as alternativas encontradas por seus protagonistas para por fim à exclusão social e ao sofrimento dos usuários dos serviços de saúde mental. O coordenador da mesa, Fernando Freitas, do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz), citou uma frase de Franco Baságlia - 'contra o pessimismo da razão, o otimismo da prática' -, ao lembrar que, através das experiências dos usuários, é possível mostrar que com esperança consegue-se desenvolver um trabalho em prol de todos. A última mesa do seminário - 'Aspectos da construção da Rede de Intercâmbio' -, foi focada para o papel da rede em si. Mariana Rangel, do Laps/ENSP/Fiocruz, apresentou o site da Rede, criado a partir do convênio com Trieste e que objetiva se tornar um ambiente virtual para a formulação e troca de experiências entre os parceiros envolvidos no projeto. Já Mariana Baresi, da Associación por los Derechos en Salude Mental da Argentina, falou do Programa de Reabilitación y Externación Asistida (PREA), desenvolvido devido ao fato de que o país não conta com uma lei específica para a saúde mental e como as experiências profissionais foram fundamentais para o atendimento aos usuários, assim como a forma como o PREA poderá contribuir com a Rede. O coordenador do Laps/ENSP/Fiocruz, Paulo Amarante, considerou positivo o resultado do encontro, uma vez que "a Rede passou a cumprir um papel protagonista importante na construção das novas práticas e cenários da saúde mental no Brasil e na América Latina, ampliando a noção do campo psicossocial e da reforma psiquiátrica para além da assistência, promovendo a transformação das relações sociais para com as pessoas em sofrimento mental". O pesquisador informou ainda que retornará, em breve, para Trieste com a finalidade de renovar as parcerias dos projetos existentes e pensar no local e nas estratégias do III encontro da Rede, levantando a possibilidade de que ele venha a ocorrer em Trieste (Itália).
(Fotos: Laps/ENSP/Fiocruz - tratamento digital: CCI/ENSP/Fiocruz)
Acesse o site da ENSP, fonte desta notícia Notícias anteriores Entrevistas
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Rede de Saúde Mental e ECOSOL: a construção de uma rede de colaboração solidária

O presente texto busca fazer uma reflexão acerca da construção da Rede de Saúde Mental e Economia Solidária, mas não num sentido de enumerar suas realizações, e sim dar relevo a estratégia de construção de redes de colaboração solidárias destacando a importância de reafirmar um dos principais referenciais para a construção do processo da Reforma Psiquiátrica brasileira: a estratégia de Rede.
A Rede de Saúde Mental e Economia Solidária surge, primeiramente, como dispositivo que aponta a falência do manicômio, ao mesmo tempo em que tece possibilidades reais de contrapor a lógica de exclusão sócio-econômica tentando resgatar o fazer, os desejos e os transbordamentos daqueles que se propõem a dar algum sentido à loucura.
Esta Rede é resultado de um conjunto de atividades organizadas entre a Saúde Mental e a Economia Solidária1.
Aqui busca-se afirmar o conceito de Rede tão presente no processo de Reforma Psiquiátrica brasileira, como em todo o processo de construção desse novo ator social, que é a Economia Solidária.

A Saúde e sua organização em Rede

Na lógica da territorialização, os serviços de saúde mental não são voltados a tratar a doença, mas se configuram como dispositivos de promoção de saúde, de espaço de criação e desenvolvimento de sociabilidades e o cuidado oferecido mostra-se como porto seguro para o indivíduo e sua comunidade.
A implementação desses equipamentos não pode ser realizada a partir de territórios isolados uns dos outros, sendo necessário toda uma estratégia de conexão dos mesmos, tendo não mais o hospital (psiquiátrico ou não) como seu principal paradigma mas, uma complexa rede de inter-relação onde desde a unidade básica de saúde, da visita domiciliar do PSF, passando pelos CAPS e os hospitais gerais, tece-se uma grande teia voltada ao atendimento público e gratuito e que promove saúde e qualidade de vida.
Sendo assim, o processo de implementação e fortalecimento da Reforma Psiquiátrica não pode ser entendido como um processo que um dia vai ser definitivamente implementado. Mas, pelo contrário, a construção da RP é um processo coletivo que sempre necessitará de aperfeiçoamento e de melhoras, já que o mesmo deve estar aberto a sua própria superação, pois é fundado sobre a estratégia de Rede.
É importante salientar que o atual processo de passagem da gestão do SUS para as mãos da iniciativa privada (as chamadas Organizações Sociais - OS`s) é um processo arriscado e perigoso, pois ataca frontalmente a integralidade do sistema e de sua estratégia de construção de uma Rede pública de promoção de saúde e de cuidado. A "terceirização" da saúde, como alguns preferem chamar, é uma das maiores ameaças ao Sistema Público e gratuito de saúde (conquista dos trabalhadores e usuários) e que virou referência internacional de universalidade das ações de saúde2.
A entrega dos equipamentos de saúde mental às organizações sociais, entre outras desvantagens, dificulta o trabalho organizado em Rede, já que os equipamentos podem ser geridos por O.S`s diferentes dependendo dos critéiros elegidos pela administração municipal. A lógica de funcionamento das O.S`s não prioriza o diálogo entre os equipamentos e o trabalho conjunto baseado na parceria; o que impera na lógica de funcionamento é a do mercado, que não permite colaboração ou solidariedade entre os equipamentos, mas acirra a competição e promove o isolamento.

Inserção no Trabalho e Saúde Mental: Porque a estratégia em Rede?

Ao falar em Rede falamos essencialmente de diversidade e de potencialização de uma sinergia coletiva; um processo aberto e de construção de enunciações coletivas. As redes são espaços abertos ao diálogo e a troca onde cada membro, cada parte só se fortalece a partir de um processo mesmo de fortalecimento do coletivo3 ali envolvido. A consistência da rede assim se constrói através de relações, de fluxos, de pulsões que se realiza na colaboração, em seu processo mesmo de diversidade. Quanto mais diversidade, mais forte se faz uma Rede. Um movimento que não se funda no salto qualitativo da dialética, mas sim, num processo mesmo rizomático, onde o que vale, são as interrelações e seus fluxos.
Esse processo de organização da inserção no trabalho dos usuários da saúde mental através da organização da Rede vem reforçar todo um processo de organização de coletivos (projetos/ empreendimentos) de produção de conhecimentos, saberes, trabalho e cultura que já se operam nos equipamentos de saúde mental da rede pública de saúde.

A escolha na relação entre saúde mental e economia solidária de construção de uma Rede, vem primeiramente afirmar que:

a) são movimentos com histórias, dinâmicas e tempos diversos;

b) tem atores, movimentos, estratégias que se inter-relacionam/ trocam;

c) tem assim, em seu interior, singularidades que não concorrem, mas sim, que buscam a criação de espaços que possibilitem criar enunciações coletivas.

Assim, a construção de uma Rede se associa a idéia de não cairmos nos diversos erros já vistos no conjunto do movimento social e que ainda é a forma organizativa hegemônica: a de construção de "direções" que se mantém independente do processo vivo de mobilização e militância. Não caindo nesse processo tão danoso (e infelizmente, tão presente) de criação de personalidades que representam o movimento social e que gera automaticamente um "culto a personalidade", a estratégia em Rede se torna uma tentativa de construção de movimentos sociais formados por diferentes (e não por iguais) que buscam não a construção de estruturas verticais ou direções, mas um processo vivo onde quem está presente - quem produz, vive e constrói a Rede - é quem dá seu sentido e direção.

A Rede assim constitui-se através das dimensões ética, estética e política.

Politica: as redes de colaboração solidária constituem-se através de uma gestão autogestionária garantindo a todas as pessoas iguais condições de participar e decidir. Buscando dar visibilidade e ampliando as conquistas de políticas públicas emancipatórias que visam o apoio, fomento e a articulação de novas cadeias produtivas solidárias, que valorizem a diversidade de atores e processos, em especial, os segmentos sociais que foram históricamente "invisibilizados".

Ética: as redes de colaboração solidária promovem a diversidade, o compromisso pela qualidade de vida de todos e todas, o desejo do outro em sua valiosa diferença, para que cada pessoa ou coletivo possa usufruir nas melhores condições possíveis, das liberdades públicas e privadas. Desejar o diferente significa acolher a diversidade, em suma, acolher as mais variadas formas de realização singular da liberdade humana que não neguem as liberdades públicas e privadas eticamente exercidas. Promover as liberdades significa garantir às pessoas as condições materiais, políticas, informativas e educativas para uma existência ética e solidária.

Estética: porque a Rede constrói plasticidades, efeitos, atividades, enunciados que se formam no coletivo. Expressando, a combinação de cores, acordes, sentidos das diversas singularidades manifestas nos projetos/ empreendimentos e nos usuários envolvidos.

A força da Rede de Saúde Mental e Ecosol reside nos diversos projetos/empreendimentos de trabalho que tenham como protagonistas os usuários de saúde mental que dela fazem parte e nesse sentido busca ser um espaço vivo de encontro e trocas. Nesse espaço não é o transtorno mental ou a dificuldade derivada do sofrimento que é evidenciada, mas sim a beleza das produções. E são tantas...bolsas, artesanato, quadros, poesia, música, dança, samba, etc.
Nesse processo os tempos dos projetos/ empreendimentos se chocam, pois alguns já estão em um momento mais avançado na inserção econômica e social. A impaciência de alguns, a tentativa de agir sozinho e de avançar sem os outros torna-se a grande tentação. A idéia de que um projeto é melhor que o restante é sempre um grande perigo e pode levar à morte uma Rede de colaboração solidária. Nesse sentido, a paciência, o respeito às temporalidades e as diferenças e a criação de enunciações coletivas são os principais pilares para a construção de uma Rede.
Nesse sentido, a Rede de Saúde Mental e Economia Solidária se configura como um espaço nômade, capaz de expressar em sua diversidade as singularidades de temporalidades diversas, que podem sim, conectar-se no objetivo comum que é inserir no campo do trabalho os usuários da saúde mental. A Rede pode ser entendida como um espaço, um coletivo, do que é produzido dentro dos equipamentos de saúde, já que o projeto de geração de trabalho e renda daquele serviço que participa da Rede é resultado da clínica emancipadora praticada, pois o técnico da saúde mental que preza pela autonomia e emancipação do sujeito que é usuário criará tecnologias e coletivos que darão conta da questão do trabalho do usuário.

As principais características de nossa Rede são:

a) organizar uma diversidade de projetos/ empreendimentos em um movimento orgânico com potencial transformador;

b) buscar saídas coletivas desses projetos por trabalho, renda e pela afirmação e fortalecimento de suas singularidades

c) são em sua própria dinâmica a negação das estruturas de exploração do trabalho, de expropriação no consumo e de dominação política e cultural, e

d) criam em sua diversidade novas formas pós-capitalista de produzir e consumir, de organizar a vida coletiva afirmando o direito à diferença e à singularidade de cada projeto/ empreendimento;

A título de conclusão o objetivo básico da Rede de Saúde Mental e Economia Solidária é construir de maneira solidária e ecológica novas cadeias produtivas, que tenham em seu interior a potência de agir, o afecto fundado no coletivo. Fazendo, dos projetos/ empreendimentos de trabalho da saúde mental um agente econômico, social, político e estético fundados na criação e no potencial produtivo dos usuários de saúde mental.

Notas:

1. No ano de 2008, duas atividades de discussão e formação entre atores da Reforma Psiquiátrica marcaram a agenda desses encontros: as atividades contaram com a presença do Prof. Dr. Valmor Schiochet, do Núcleo de Programas Sociais da Superintendência Regional do Trabalho-SP, além do Fórum Paulista de ECOSOL. As atividades ocorreram no Programa de Pós Graduação de Enfermagem - USP e no CAPS Itaim Bibi. A partir, dessas atividades a Rede começou a se reunir de 15 em 15 dias, e posteriormente mensalmente, realizando: a) formação de 58 multiplicadores em Saúde Mental e ECOSOL e a I Feira de Saúde Mental e ECOSOL, na Escola de Enfermagem da USP. Mais recentemente, a Rede organizou um ônibus, com apoio do CRP-SP e do SINPSI, para a Marcha dos Usuários, participando e entregando suas reivindicações em uma Audiência com o Prof. Paul Singer (SENAES/MTE). Em breve, ocorrerá a II Feira de Saúde Mental e ECOSOL, na cidade de Embú das Artes.

2. Benedetto Saraceno, da Organização Mundial de Saúde, em visita ao Brasil, em 2009, realizando diversas Conferências e reuniões com o Ministério da Saúde afirmou que: "Fortalecer a Reforma Psiquiátrica brasileira é fortalecer a OMS",
ver na página: http://www.projetosterapeuticos.com.br/www.saudeecosol.wordpress.com.

3. Entendido esses coletivos, como aponta Jean Oury, no livro, O Coletivo. Ed. Hucitec, 2009: "Pode-se então, de maneira metodológica, considerar, mas muito provisoriamente, a palavra "Coletivo" como um tipo de "caixa preta"(cf. A lógica das caixas pretas), tentando a princípio, ver o que sai, quais são os efeitos, quais são os efeitos desejados. Seria o trabalho de cada um fazer uma lista - jamais exaustiva - do que é desejado".

Leonardo Penafiel Pinho e Marilia Capponi
www.projetosterapeuticos.com.br

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A Importância de Inovar em Gestão e Cuidado

Ao longo de suas oito edições, o Seminário do Projeto Integralidade contou, além das exposições dos pesquisadores do LAPPIS, com a participação de autoridades e convidados relacionados aos mais variados âmbitos da Saúde Coletiva. A edição de 2009 não será diferente. Coordenador da Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (PNH – MS) desde 2007, Dario Pasche confirmou sua participação na mesa redonda “Medicalização na Saúde: despersonalização, desumanização e utilitarismo? Afinal, do que se trata?”, que será apresentada na manhã do segundo dia do seminário. Em entrevista exclusiva ao BoletIN, Pasche falou, entre outros assuntos, sobre a importância de retomar o debate sobre a natureza das práticas de saúde e interrogar sobre o cotidiano, abrindo a possibilidade de se recriar relações clínicas e de poder nas organizações de saúde. “O debate proposto pelo seminário sobre o ‘cotidiano e as razões do cuidado’ é fundamental. Uma agenda importante para a terceira década do SUS é inovar nos modos de gestão e modos de cuidado”.

BoletIN: Como coordenador da Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (HumanizaSUS), qual a importância da discussão da Medicalização em Saúde?

Dario Pasche: Este debate é importante e estratégico, e isto se deve a duas questões principais: em primeiro lugar, porque a agenda do SUS está quase toda direcionada para questões macropolíticas, sobretudo para o financiamento, que, embora seja estratégico, não deveria redundar em toda agenda e tarefa política do SUS, sendo fundamental retomar o debate sobre a natureza das práticas de saúde; em segundo lugar, porque se não formos capazes de “incrementar” o debate sobre a micropolítica no SUS, portanto interrogando sobre a sustentação das práticas de saúde, corremos o risco de avançar no desenvolvimento de um sistema universal sem necessariamente ofertar práticas que ampliem a autonomia das pessoas no cuidado de si.

BoletIN: Que temas/discussões pretende levar ao IX Seminário do Projeto Integralidade?

Dario Pasche: Minhas discussões vão se centrar em dois pontos, os quais se comunicam fortemente. O primeiro vai no sentido de que o combate ativo à biopolítica - às formas de controle e regulação de necessidades de saúde no contexto do capitalismo - passa por um duplo movimento que deveria articular ações macro e micropolíticas, ou seja, deveria combinar agendas no plano societal e no plano das interações e relações entre trabalhadores, usuários e gestores. O segundo ponto de discussão é que esta ação micropolítica, para ser efetivamente produtora de mudanças, deveria interferir na dinâmica de organização das instituições de saúde, na perspectiva de democratizá-las. A democratização das instituições e das relações se reveste de uma intenção de desprivatização dos espaços de gestão e da clínica, o que significa dar passagem para as diferenças dos variados sujeitos para compor planos comuns. Assim, temos uma agenda cujo campo de luta são as formas de gestão das organizações de saúde, as quais interferem de forma decisiva nas práticas clínicas.

BoletIN: Quais suas expectativas em relação ao Seminário?

Dario Pasche: O debate proposto pelo seminário sobre o “cotidiano e as razões do cuidado” é fundamental. É possível argumentar que o SUS, como política pública, tem conseguido ampliar o acesso e estendido sua rede, aumentando as ofertas de ações e serviços. Uma agenda importante para a terceira década do SUS é inovar nos modos de gestão e modos de cuidado. Isto exige, necessariamente, interrogar sobre o cotidiano, sobre as práticas de saúde, abrindo a possibilidade de se recriar relações clínicas e de poder nas organizações de saúde. Esta agenda é tão ou mais complexa que a luta por criar e sustentar o SUS como política pública, pois o desafio agora se desloca para um campo de luta que exige experimentar e inovar no plano terreno da ação de cada equipe, de cada território. Agora é cuidar de cada um dos espaços singulares que criamos; este cuidar exige ação crítica, mas uma crítica que seja generosa, capaz de reconhecer esforços e insuficiências. Ou seja, exige não uma ação normativa - o “deve fazer” - mas a oferta e experimentação de um “como fazer”. A extensividade da rede SUS vai exigir a criação de estratégias ainda pouco frequentes, entre as quais o apoio às equipes, função-atividade de fazer-junto, utilizando-se do saber-fazer das equipes e, ao mesmo tempo, do aporte de expertises de outros trabalhadores da saúde comprometidos com a construção de práticas de saúde que sejam mais condizentes com as necessidades de saúde, e processos de gestão do trabalho que dignifiquem o trabalhador. Tarefas complexas, com certeza.

BoletIN: O título de sua tese de Doutorado foi "Gestão e sujetividade em saúde", finalizada em 2003. Seis anos depois, o que mudou nessa questão?

Dario Pasche: Minha tese se inscreve em um ambiente acadêmico de crítica e construção de alternativas aos modos de gestão burocratizados e pouco capazes de produzir mudanças nas formas de governar as instituições de saúde e nos modos de cuidar. O argumento central é que não se mudam práticas sem se alterar os modos de gestão, aquilo que a PNH vai tomar como o princípio da inseparabilidade entre gestão e atenção à saúde. Inovar no campo da gestão implica no enfrentamento de uma cultura organizacional muito enraizada que tem como matriz o taylorismo, cuja principal marca e característica é o autoritarismo. Assim, criamos e reproduzimos relações e instituições autoritárias, centralizadoras e excludentes. Inovar, então, não teria como perspectiva aprimorar a gestão taylorista, mas criar um novo paradigma para a gestão em saúde. Gastão Campos, meu orientador, foi pioneiro nestas discussões na saúde coletiva e produziu um método - o Método da Roda - que tem inspirado muita experimentação em toda a rede SUS. Nesta última década, o SUS avançou muito neste debate e em experiências que tomaram por tarefa recriar organizações de saúde. Se antes contávamos nos dedos onde havia inovações, atualmente elas estão presentes nos quatro cantos deste país. Temas e conceitos emergentes foram incorporados com a subjetividade, a produção de sujeitos, a clínica ampliada, a cogestão, as relações de poder, afeto e saber entre as pessoas, entre outros. Comprovando a velha frase de que não há prática revolucionária sem uma teoria revolucionária, creio que no SUS a gente vem criando e incorporando novos conceitos que têm permitido a emergência de novas experimentações, muitas delas revolucionando o cotidiano das práticas.

BoletIN: Comente a importância da humanização do SUS no âmbito da Integralidade.

Dario Pasche: A integralidade é uma diretriz do SUS, está destacada na base jurídico-legal de nosso sistema de saúde como imperativo-normativo - ou seja, está no plano do “deve ser”. O SUS deve ofertar práticas integrais. Uma questão que se impõe a partir desta definição é como fazer para que a integralidade se transforme em prática social. A humanização informa certo modo de fazer da integralidade (entre outros) um componente orientador e expressão do SUS. Este modo de fazer é o Método da Tríplice Inclusão. Incluir implica em assumir radicalmente que as mudanças necessárias no SUS serão mais estáveis e melhor assumidas por gestores, trabalhadores e usuários se forem construídas por eles e não para eles. Por exemplo: como fazer para que determinada equipe assuma a integralidade como princípio orientador de suas práticas? Haveria que se combinar ofertas de gestão com a incorporação de determinadas tecnologias de cuidado que fossem experimentadas em cada equipe para que elas tenham sentido em seu cotidiano. Isto pode ser feito por normatividade (portarias, regramentos administrativos, etc.), mas terá efeito prático se for construído com a equipe desde suas práticas cotidianas, então recriadas. A humanização, em seu modo de fazer inclusivo, oferta ainda diretrizes, que são orientações ético-político-clínicas que dão suporte às práticas inclusivas. Entre elas a clínica ampliada, o acolhimento, a gestão democrática, a garantia de direitos dos usuários e a valorização do trabalhador. Estas orientações experimentadas em dispositivos (formas concretas de trabalho) criam possibilidades reais para que a integralidade possa se expressar como prática concreta, como efeito de ações de saúde construídas com trabalhadores, com equipes.
Dario Pasche

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Publicada a Portaria que Institui a Semana Mundial da Amamentação no Brasil

Publicação de Portaria

Conass Informa n. 171. Informamos que foi publicada no DOU n. 194, de 09/10/09, a Portaria GM n. 2394, que institui a Semana Mundial da Amamentação (SMAM) no Brasil e estabelece a parceria entre o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria nas comemorações da SMAM.

PORTARIA GM Nº 2.394, DE 7 DE OUTUBRO DE 2009

Institui a Semana Mundial da Amamentação (SMAM) no Brasil e estabelece a parceria entre o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria nas comemorações da SMAM.O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, eConsiderando as prioridades, objetivos e metas do Pacto pela Vida em 2008, definidos pela Portaria nº 325/GM, de 21 de fevereiro de 2008, que estabelece a redução da mortalidade materna e infantil, entre outros assuntos;Considerando o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, lançado em 8 de março de 2004, que visa monitorar o cumprimento das ações de proteção à saúde da criança e da mulher;Considerando o compromisso internacional assumido pelo Brasil de cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em especial o quarto Objetivo, cuja meta é a redução em dois terços da mortalidade de crianças menores de cinco anos, no período de 1990 e 2015;Considerando a II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal/2009, que revela que os índices de aleitamento materno no Brasil estão abaixo do recomendado;Considerando ser o aleitamento materno importante estratégia de vínculo entre mãe e filho e de proteção e promoção da saúde da criança e da mãe, cujo sucesso tem implicação direta na redução da mortalidade materna e infantil;Considerando a necessidade de mobilização de todos os segmentos da sociedade em prol da promoção, proteção e apoio da amamentação; Considerando que a Semana Mundial da Amamentação (SMAM), idealizada pela WABA (World Alliance for Breastfeeding Action - Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno) tem sido comemorada, desde 1992, em mais de 150 países com o propósito de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno;Considerando que as comemorações da SMAM configuram-se como um importante marketing social capaz de aumentar os índices de aleitamento materno no País, reduzir a desnutrição, a morbidade, principalmente por infecções gastrintestinais e respiratórias, e a mortalidade infantil;Considerando que a mobilização para as comemorações da SMAM tem sido crescente a cada ano, contando com o apoio das Secretarias Estaduais e das Municipais de Saúde, das Organizações Não-Governamentais, dos Organismos Internacionais, das Sociedades Científicas, dos Hospitais Amigos da Criança, da Rede Nacional de Bancos de Leite Humano, e de outros parceiros importantes;Considerando que o Ministério da Saúde coordena as ações da SMAM no Brasil desde 1999;Considerando que, em 1999, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou a campanha da "Madrinha da SMAM";Considerando que, desde 2004, as atividades de coordenação da SMAM têm sido realizadas em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria; resolve:Art. 1º Instituir a Semana Mundial da Amamentação no Brasil com o propósito de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno.Parágrafo único. As comemorações da SMAM serão anuais e acompanharão o calendário internacional, de 1º a 7 de agosto.Art. 2º A SMAM será coordenada, em âmbito nacional, pela Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, da Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria.Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
JOSÉ GOMES TEMPORÃO

domingo, 11 de outubro de 2009

Seminário traz Panorama da Saúde Mental pela América Latina

Pela segunda vez, os integrantes da Rede de Intercâmbio de Boas Práticas no Campo dos Serviços Sociais, de Saúde de Base e Saúde Mental, voltaram a se reunir para mais um seminário internacional. O encontro foi na ENSP/Fiocruz, nos dias 1 e 2 de outubro. A Rede é coordenada por Paulo Amarante, responsável também pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz), e, segundo o pesquisador, o encontro ajudará na construção de políticas de saúde mental para a região, a partir das experiências apresentadas pelos países integrantes da Rede. A primeira mesa do seminário teve como tema 'Políticas de Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica no Brasil e na América Latina'. A experiência argentina foi apresentada por Graciella Natella, da Red Intersectorial de Familiares, Usuarios, Voluntarios y Profesionales, que explicou que o país é composto de 24 províncias com autonomia em suas políticas de saúde mental. A expositora trouxe o trabalho desenvolvido pela província de Río Negro, há 25 anos, reconhecido pelo processo de desmanicomialização do sistema e de um extenso programa intersetorial (educação, ação social, vida saudável) entre os usuários e a sociedade. Graciella Natella lembra que todo esse trabalho só foi possível por meio do convênio com a região de Trieste (Itália) e se tornou uma referência para o país. Atualmente, revelou a palestrante, a Argentina conta com mais de 56 mil psicólogos, e a proporção de um médico psiquiatra para cada 10 psicólogos. "Estamos vivendo um período com uma grande oferta e desenvolvimento de associações e instituições científicas dedicadas à psiquiatria e à psicologia, com uma vasta produção teórica", disse. Em seguida foi a vez de Madalena Libério, da Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, apresentar dados sobre a mudança do modelo na atenção à saúde mental no Brasil. De início, mostrou que para uma população de quase 190 milhões de habitantes, o país conta, em 2009, com 1.394 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), espalhados em todas as cinco regiões, contra apenas 148 unidades em 1998. Madalena apresentou números sobre a redução da quantidade de leitos hospitalares para usuários do serviço de saúde mental e, consequentemente, o aumento de iniciativas de inclusão social pelo trabalho. "Todas essas mudanças refletem diretamente na qualidade de vida cotidiana desses usuários nas cidades onde vivem", afirmou. Ainda segundo a representante do Ministério da Saúde, houve uma grande redução com relação aos gastos com internação hospitalar e aumento com a rede de serviços comunitários e cuidados não hospitalares nos últimos sete anos. A última exposição foi do representante da Opas/OMS Hugo Cohen, destacando o apoio que a Organização Pan-Americana de Saúde desenvolve com os países no campo da saúde mental e lembrando que a consolidação da Rede é uma responsabilidade de todos, e tanto Brasil quanto Chile são peças fundamentais por conta de suas experiências exitosas nesta área. "Após 30 anos de Alma Ata, vemos que não há saúde sem saúde mental. Entretanto, se buscarmos, na América Latina, uma Escola de Saúde Pública que trabalhe com saúde mental, encontraremos apenas a ENSP/Fiocruz", afirmou. Hugo Cohen revelou que das 300 milhões de pessoas que vivem na América Latina, 27% carece de acesso a serviços básicos de saúde, 152 milhões não possuem água ou saneamento básico e 20% da população controla 80% da riqueza. "Esses são números preocupantes que revelam a real situação de saúde na América Latina e, consequentemente, de saúde mental também", disse. Segundo o representante da Opas, passa de 30 milhões o número de adultos que sofrem de depressão em toda a região, mesmo número para alcoolismo. Para Hugo, não existem modelos de saúde eficazes sem modalidades de trabalho para a população, e é inviável comparar a situação entre os países sem compreender suas histórias. Sobre saúde mental, uma das principais resistências encontradas nos países é a descentralização dos recursos por parte dos profissionais e trabalhadores dos hospitais psiquiátricos. "O campo da saúde mental é muito complexo e amplo. Muitas vezes, ficamos restritos apenas à lógica da clínica e temos que mudar isso. Então, a participação social é fundamental nesse processo da reforma psiquiátrica, seja ela brasileira ou na América Latina", concluiu Paulo Amarante, ao encerrar as atividades da manhã de 1 de outubro. Em seguida, o grupo Harmonia Enlouquece fez uma apresentação para o público presente.
ENSP, dia 05/10/2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Retrocesso em Frutal - Companheiro é demitido

"...Para que alcances las estrellas, para que tus suenos se cumplan, sólo tienes que desearlo de corazón, con todas las fuerzas de tu alma y luchar, luchar sin desmayo para conseguir lo aunque no llegues a la cima, el paisaje que se divisa desde la montana, también es hermoso."
Che Guevara
Caros amigos,
Fui demitido da função de médico-psiquiatra de nosso município (Frutal). Apesar dos inúmeros avanços obtidos até o momento, que passa pela ampliação do acesso à Saúde Mental pela população, com nossa ida para os ESFs (Estratégia Saúde da Família), inclusive em Aparecida de Minas. Redução de 20 internações psiquiátricas/ano para zero em 2008. Atendimento em grupo, modelo incentivado pelo Ministério da Saúde, com o intuito de ampliar o acesso, promover trocas sociais, difundir a solidariedade entre seus membros. Cuidado intensivo das pessoas mais graves com o fortalecimento e credenciamento do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Participação em eventos científicos no Brasil e Exterior, onde trocávamos experiências, com o relato do que vinha sendo produzido no nosso Serviço. Seminários realizados em nossa cidade, com convidados reconhecidos como referência da Reforma Psiquiátrica, onde discutíamos os caminhos e desafios da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Ações junto à comunidade promovendo a integração da nossa clientela, por tantos anos excluída, como a Abertura do Carnaval, A Semana da Luta Antimanicomial, Festa Junina na rua. Investimento na formação da equipe do CAPS e do ESFs com aulas e discussões, muitas delas promovidas e dadas por mim. Conquista da supervisão clínico-institucional, com projeto enviado e aprovado com elogios pelo Ministério da Saúde. Visita ao Hospital Geral como uma tentativa de sensibilização das equipes da importância do acolhimento dos portadores de sofrimento mental em crise. Curso de capacitação para os médicos plantonistas, criação de protocolo para o atendimento das emergências psiquiátricas e muitos outros benefícios levados à população da nossa cidade. Mas, infelizmente, numa visão torpe e equivocada, muito distante da Saúde Pública, o que realmente interessava era agir na velha lógica do INAMPS, problema-solução. Priorizar “emergências”, em detrimento de uma construção de rede plural e forte. No entanto o que se buscava era evitar situações de emergência. E os próprios resultados de uma rede forte e plural que se tentou implantar indicam que esta estratégia foi bem aplicada, pela redução substancial das internações psiquiátricas da clientela psicótica, bem como dos episódios de crise. Recebendo elogios da referência em Saúde Mental de Uberaba, pois Frutal deixou de ser um problema e passou a ser exemplo a ser seguido pelos demais municípios. Todos esses avanços não seriam possíveis sem o trabalho da companheira Arlete, guia de todas essas transformações, dos companheiros do CAPS, bravos lutadores em defesa da Reforma Psiquiátrica, das equipes de ESFs, que apesar das dificuldades sempre as enfrentaram com muito afinco, dos colegas médicos e demais trabalhadores da Saúde, que mesmo com algum estranhamento, souberam ouvir e ajudar a cuidar de uma clientela, que segundo dados do Ministério da Saúde, chega a 25% da população geral. Penso que construímos algo e torço para que recuos não sejam estimulados. Continuarei a militar na Saúde Pública, apesar de agora não mais estar nos equipamentos de Estado. No final de novembro, será inaugurado um Instituto de Saúde Mental, Instituto Gregório Baremblitt, para o qual trabalhei, juntamente com outros bravos lutadores, Arlete, Bernardino e Simone, e que enfim se tornará realidade. O Instituto atuará precipuamente na promoção de atividades e assistência à clientela de baixa renda.
Como diria Che, “Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera”.
Com carinho, Celso.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Saúde Mental no Programa Profissão Repórter - Rede Globo

A Rede Globo apresentará matéria sobre a Marcha dos Usuários de Saúde Mental. O Programa Profissão Repórter, do jornalista Caco Barcelos, gravado no dia da Marcha dos Usuários pela Reforma Psiquiátrica Antimanicomial e no Centro de Convivência Venda Nova (BH) com os integrantes do Trem Tan Tan, irá ao ar no dia 13/10 (3ª feira), às 23 horas.
Lourdes Machado
Secretaria de Estado da Saúde

Vida nua, vida besta, uma vida

Ao reduzir a existência ao seu mínimo biológico, o biopoder contemporâneo nos transforma em meros sobreviventes

O contexto contemporâneo se caracteriza por uma nova relação entre o poder e a vida. Por um lado, uma tendência que poderia ser formulada como segue: o poder tomou de assalto a vida. Isto é, ele penetrou todas as esferas da existência, e as mobilizou inteiramente, pondo-as para trabalhar. Desde os gens, o corpo, a afetividade, o psiquismo, até a inteligência, a imaginação, a criatividade, tudo isso foi violado, invadido, colonizado, quando não diretamente expropriado pelos poderes. Mas o que são os poderes?
Digamos, para ir rápido, com todos os riscos de simplificação: as ciências, o capital, o Estado, a mídia. Sabemos, no entanto, que os mecanismos diversos pelos quais eles se exercem são anônimos, esparramados, flexíveis, rizomáticos. O próprio poder tornou-se "pós-moderno": ondulante, acentrado, reticular, molecular. Com isso, ele incide diretamente sobre nossas maneiras de perceber, de sentir, de amar, de pensar, até mesmo de criar. Se antes ainda imaginávamos ter espaços preservados da ingerência direta dos poderes (o corpo, o inconsciente, a subjetividade) e tínhamos a ilusão de preservar em relação a eles alguma autonomia, hoje nossa vida parece integralmente subsumida a tais mecanismos de modulação da existência.
Até mesmo o sexo, a linguagem, a comunicação, a vida onírica, mesmo a fé, nada disso preserva já qualquer exterioridade em relação aos mecanismos de controle e monitoramento, se é que alguma vez tal exterioridade fosse cabível. Para resumi-lo numa frase: o poder já não se exerce desde fora, nem de cima, mas como que por dentro, pilotando nossa vitalidade social de cabo a rabo. Não estamos mais às voltas com um poder transcendente, ou mesmo repressivo, trata-se de um poder imanente, produtivo. Como o mostrou Foucault, um tal biopoder não visa barrar a vida, mas tende a encarregar-se dela, intensificá-la, otimizá-la. Daí nossa extrema dificuldade em situar a resistência, já mal sabemos onde está o poder, e onde estamos nós, o que ele nos dita, o que nós dele queremos, nós nos encarregamos de administrar nosso controle, e o próprio desejo está inteiramente capturado. Nunca o poder chegou tão longe e tão fundo no cerne da subjetividade e da própria vida como nessa modalidade contemporânea do biopoder.
É onde intervém o segundo eixo que seria preciso evocar, sobretudo em autores provenientes da autonomia italiana. Resumo tal tendência da seguinte maneira. Quando parece que “está tudo dominado”, como diz um rap brasileiro, no extremo da linha se insinua uma reviravolta: aquilo que parecia submetido, controlado, dominado, isto é, “a vida”, revela no processo mesmo de expropriação, sua potência indomável.
Tomemos apenas um exemplo. O capital precisa hoje não mais de músculos e disciplina, porém de inventividade, de imaginação, de criatividade, de força-invenção. Mas essa força-invenção, de que o capitalismo se apropria e que ele faz render em seu benefício próprio, não só não emana dele, como no limite poderia até prescindir dele. É o que se vai constatando aqui e ali: a verdadeira fonte de riqueza hoje é a inteligência das pessoas, sua criatividade, sua afetividade, e tudo isso pertence, como é óbvio, a todos e a cada um. Tal potência de vida disseminada por toda parte nos obriga a repensar os próprios termos da resistência.
Poderíamos resumir esse movimento do seguinte modo: ao poder sobre a vida responde a potência da vida, ao biopoder responde a biopotência, mas esse “responde” não significa uma reação, já que o que se vai constatando é que tal potência de vida já estava lá desde o início. A vitalidade social, quando iluminada pelos poderes que a pretendem vampirizar, aparece subitamente na sua primazia ontológica. Aquilo que parecia inteiramente submetido ao capital, ou reduzido à mera passividade, a “vida”, aparece agora como reservatório inesgotável de sentido, manancial de formas de existência, germe de direções que extrapolam as estruturas de comando e os cálculos dos poderes constituídos.
Seria o caso de percorrer essas duas vias maiores como numa fita de Moebius, o biopoder, a biopotência, o poder sobre a vida, as potências da vida1. Mas aqui isto será feito sob um crivo particular, o do corpo. Pois tanto o biopoder como a biopotência passam necessariamente, e hoje mais do que nunca, pelo corpo. Assim, proponho trabalhar aqui três modalidades de "vida", isto é, três noções de vida, acompanhados de sua dimensão corporal correspondente, percorrendo de um lado a outro a banda de Moebius mencionada.

O "muçulmano"

É preciso começar pelo mais extremo - o "muçulmano". Retomo brevemente à descrição feita por Giorgio Agamben a respeito daqueles que, nos campos de concentração, recebiam essa designação terminal2. O "muçulmano" era o cadáver ambulante, uma reunião de funções físicas nos seus últimos sobressaltos3. Era o morto-vivo, o homem-múmia, o homem-concha. Encurvado sobre si, esse ser bestificado e sem vontade tinha o olhar opaco, a expressão indiferente, a pele cinza pálida, fina e dura como papel, já começando a descascar, a respiração lenta, a fala muito baixa, e feita a um grande custo...
O "muçulmano" era o detido que havia desistido, indiferente a tudo que o rodeava, exausto demais para compreender aquilo que o esperava em breve, a morte. Essa vida não humana já estava excessivamente esvaziada para que pudesse sequer sofrer4. Por que os detidos dos campos chamavam de “muçulmano” aqueles que tinham desistido de viver, já que se tratava sobretudo de judeus? Porque entregava sua vida ao destino, conforme a imagem simplória, preconceituosa e certamente equivocada de um suposto fatalismo islâmico: o “muslim” seria aquele que se submete sem reserva à vontade divina.
Em todo caso, quando a vida é reduzida ao contorno de uma mera silhueta, como diziam os nazistas ao referir-se aos prisioneiros, chamando-os de “Figuren”, figuras, manequins, aparece a perversão de um poder que não elimina o corpo, mas o mantém numa zona intermediária entre a vida e a morte, entre o humano e o inumano: o sobrevivente. O biopoder contemporâneo, conclui Agamben, reduz a vida à sobrevida biológica, produz sobreviventes. De Guantánamo à Africa, isso se confirma a cada dia.
Ora, quando cunhou o termo de biopoder, Foucault tentava discriminá-lo do regime que o havia precedido, denominado de soberania. O regime de soberania consistia em fazer morrer e deixar viver. Cabia ao soberano a prerrogativa de matar, de maneira espetacular, os que ameaçassem seu poderio, e deixar viverem os demais. Já no contexto biopolítico, surge uma nova preocupação. Não cabe ao poder fazer morrer, mas sobretudo fazer viver, isto é, cuidar da população, da espécie, dos processos biológicos, otimizar a vida. Gerir a vida, mais do que exigir a morte.
Assim, se antes o poder consistia num mecanismo de subtração ou extorsão, seja da riqueza, do trabalho, do corpo, do sangue, culminando com o privilégio de suprimir a própria vida5, o biopoder passa agora a funcionar na base da incitação, do reforço e da vigilância, visando a otimização das forças vitais que ele submete. Ao invés de fazer morrer e deixar viver, trata-se de fazer viver, e deixar morrer. O poder investe a vida, não mais a morte, daí o desinvestimento da morte, que passa a ser anônima, insignificante. Claro que o nazismo consiste num cruzamento extremo entre a soberania e o biopoder, ao fazer viver (a "raça ariana") e fazer morrer (as raças ditas "inferiores"), um em nome do outro.
O biopoder contemporâneo, segundo Agamben - e nisso ele parece seguir, mas também "atualizar" Foucault- já não se incumbe de fazer viver, nem de fazer morrer, mas de fazer sobreviver. Ele cria sobreviventes. E produz a sobrevida. No contínuo biológico, ele busca até isolar um último substrato de sobrevida. Como diz Agamben: "Pois não é mais a vida, não é mais a morte, é a produção de uma sobrevida modulável e virtualmente infinita que constitui a prestação decisiva do biopoder de nosso tempo. Trata-se, no homem, de separar a cada vez a vida orgânica da vida animal, o não-humano do humano, o muçulmano da testemunha, a vida vegetativa, prolongada pelas técnicas de reanimação, da vida consciente, até um ponto limite que, como as fronteiras geopolíticas, permanece essencialmente móvel, recua segundo o progresso das tecnologias científicas ou políticas. A ambição suprema do biopoder é realizar no corpo humano a separação absoluta do vivente e do falante, de zoè e biós, do não-homem e do homem: a sobrevida"6.
Fiquemos pois, por ora, nesse postulado inusitado que Agamben encontra no biopoder contemporâneo: fazer sobreviver, produzir um estado de sobrevida biológica, reduzir o homem a essa dimensão residual, não humana, vida vegetativa, que o chamado "muçulmano" dos campos de concentração, por um lado, e o neomorto das salas de terapia intensiva, por outro, encarnam.
A sobrevida é a vida humana reduzida a seu mínimo biológico, à sua nudez última, à vida sem forma, ao mero fato da vida, à vida nua. Mas engana-se quem vê vida nua apenas na figura extrema do "muçulmano", sem perceber o mais assustador: que de certa maneira somos todos "muçulmanos". Até Bruno Bettelheim, sobrevivente de Dachau e Buchenwald, quando descreve o comandante do campo, qualifica-o como uma espécie de "muçulmano", "bem alimentado e bem vestido". Ou seja, o carrasco é ele também, igualmente, um cadáver vivo, habitando essa zona intermediária entre o humano e o inumano, máquina biológica desprovida de sensibilidade e excitabilidade nervosa. A condição de sobrevivente, de "muçulmano", é um efeito generalizado do biopoder contemporâneo, ele não se restringe aos regimes totalitários, e inclui plenamente a democracia ocidental, a sociedade de consumo, o hedonismo de massa, a medicalização da existência, em suma, a abordagem biológica da vida numa escala ampliada.

O corpo

Tomemos a título de exemplo o superinvestimento do corpo que caracteriza nossa atualidade. Desde algumas décadas, o foco do sujeito deslocou-se da intimidade psíquica para o próprio corpo. Hoje, o eu é o corpo. A subjetividade foi reduzida ao corpo, a sua aparência, a sua imagem, a sua performance, a sua saúde, a sua longevidade. O predomínio da dimensão corporal na constituição identitária permite falar numa "bioidentidade". É verdade que já não estamos diante de um corpo docilizado pelas instituições disciplinares, como há cem anos atrás, corpo estriado pela máquina panóptica, o corpo da fábrica, o corpo do exército, o corpo da escola. Agora cada um se submete voluntariamente a uma ascese, científica e estética a um só tempo. É o que Francisco Ortega chama de bioascese7. Por um lado, trata-se de adequar o corpo às normas científicas da saúde, longevidade, equilíbrio, por outro, trata-se de adequar o corpo às normas da cultura do espetáculo, conforme o modelo das celebridades.
Como o diz Jurandir Freire Costa, a obsessão pela perfectibilidade física, com as infinitas possibilidades de transformação anunciadas pelas próteses genéticas, químicas, eletrônicas ou mecânicas, essa compulsão do eu para causar o desejo do outro por si, mediante a idealização da imagem corporal, mesmo às custas do bem-estar, com as mutilações que o comprometem, substituem finalmente a satisfação erótica que prometem pela mortificação auto-imposta8. O fato é que abraçamos voluntariamente a tirania da corporeidade perfeita, em nome de um gozo sensorial cuja imediaticidade torna ainda mais surpreendente o seu custo em sofrimento.
A bioascese é um cuidado de si, mas, à diferença dos antigos, cujo cuidado de si visava a bela vida, e que Foucault chamou de estética da existência, o nosso cuidado visa o próprio corpo, sua longevidade, saúde, beleza, boa forma, felicidade científica e estética, ou o que Deleuze chamaria a "gorda saúde dominante". Não hesitamos em qualificá-lo, mesmo nas condições moduláveis da coerção contemporânea, de um corpo fascista -diante do modelo inalcançável, boa parcela da população é jogada numa condição de inferioridade sub-humana. Que, ademais, o corpo tenha se tornado também um pacote de informações9, um reservatório genético, um dividual estatístico, com o qual somos lançados ao domínio da biossociabilidade ("faço parte do grupo dos hipertensos, dos soropositivos" etc.), isto só vem fortalecer os riscos da eugenia. Estamos às voltas, em todo caso, com o registro da vida biologizada… Reduzidos ao mero corpo, do corpo excitável ao corpo manipulável, do corpo espetáculo ao corpo automodulável, é o domínio da vida nua. Continuamos no âmbito da sobrevida, da produção maciça de "sobreviventes", no sentido amplo do termo.

Sobrevivencialismo

Que me seja permitido alargar a noção de sobrevivente mencionada acima. Na sua análise do 11 de Setembro, Slavoj Zizek contestou o adjetivo de covardes imputado aos terroristas que perpetraram o atentado contra as torres gêmeas. Afinal, eles não têm medo da morte, contrariamente aos ocidentais, que não só prezam a vida, conforme se alega, mas querem preservá-la a todo custo, prolongá-la ao máximo. Somos escravos, isto é, somos escravos da sobrevivência, até num sentido hegeliano. Nossa cultura visa sobretudo a sobrevivência, pouco importa a que custo: sobrevivencialismo. Somos os últimos homens de Nietzsche, que não querem perecer, que prolongam sua agonia, "imersos na estupidez dos prazeres diários" - é o Homo Otarius.
A pergunta de Zizek é a de São Paulo: "Quem está realmente vivo hoje? E se somente estivermos realmente vivos, se nos comprometermos com uma intensidade excessiva que nos coloca além da "vida nua"? E se, ao nos concentrarmos na simples sobrevivência, mesmo quando é qualificada como "uma boa vida", o que realmente perdemos na vida for a própria vida? E se o terrorista suicida palestino a ponto de explodir a si mesmo e aos outros estiver, num sentido enfático, "mais vivo"?1 E o autor pergunta: "Não vale mais um histérico verdadeiramente vivo no questionamento permanente da própria existência que um obsessivo que evita acima de tudo que algo aconteça, que escolhe a morte em vida?".
Não se trata, obviamente, de nenhuma conclamação ao terrorismo, mas de uma crítica cáustica ao que o filósofo esloveno chama de postura sobrevivencialista "pós-metafísica" dos Últimos Homens, e ao espetáculo anêmico da vida se arrastando como uma sombra de si mesma, nesse contexto biopolítico em que se almeja uma existência asséptica, indolor, prolongada ao máximo, onde até os prazeres são controlados e artificializados: café sem cafeína, cerveja sem álcool, sexo sem sexo, guerra sem baixas, política sem política -a realidade virtualizada.
Para o filósofo, morte e vida designam não fatos objetivos, mas posições existenciais subjetivas, e, nesse sentido, ele brinca com a idéia provocativa de que haveria mais vida do lado daqueles que de maneira frontal, numa explosão de gozo, reintroduziram a dimensão de absoluta negatividade em nossa vida diária com o 11 de Setembro, do que nos Últimos Homens, todos nós, que arrastam sua sombra de vida como mortos-vivos, zumbis pós-modernos.
O autor chama a atenção para a paisagem de desolação contra a qual vem inscrever-se um tal ato, e sobretudo para o desafio de se repensar hoje o próprio estatuto do ato, do acontecimento, em suma, da gestualidade política, num momento em que a vitalidade parece ter migrado para o lado daqueles que, numa volúpia de morte, souberam desafiar nosso sobrevivencialismo exangue. Seja como for, poderíamos dizer que na pós-política espetacularizada, e com o respectivo seqüestro da vitalidade social, estamos todos reduzidos ao sobrevivencialismo biológico, à mercê da gestão biopolítica, cultuando formas de vida de baixa intensidade, submetidos à morna hipnose consumista, mesmo quando a anestesia sensorial é travestida de hiperexcitação. É a existência de ciberzumbis, pastando mansamente entre serviços e mercadorias, e como dizia Gilles Châtelet, viver e pensar como porcos2. Vida besta é esse rebaixamento global da existência, essa depreciação da vida, sua redução à vida nua, à sobrevida, estágio último do niilismo contemporâneo.
À vida sem forma do homem comum, nas condições do niilismo, a revista “Tiqqun” deu o nome de “Bloom”3. Inspirado no personagem de Joyce, “Bloom” seria um tipo humano recentemente aparecido no planeta, e que designa essas existências brancas, presenças indiferentes, sem espessura, o homem ordinário, anônimo, talvez agitado quando tem a ilusão de que com isso pode encobrir o tédio, a solidão, a separação, a incompletude, a contingência -o nada.
Bloom designa essa tonalidade afetiva que caracteriza nossa época de decomposição niilista, o momento em que vem à tona, porque se realiza em estado puro, o fato metafísico de nossa estranheza e inoperância, para além ou aquém de todos os problemas sociais de miséria, precariedade, desemprego etc. Bloom é a figura que representa a morte do sujeito e de seu mundo, onde tudo flutua na indiferença sem qualidades, em que ninguém mais se reconhece na trivialidade do mundo de mercadorias infinitamente intercambiáveis e substituíveis. Pouco importam os conteúdos de vida que se alternam e que cada um visita em seu turismo existencial, o “Bloom” é já incapaz de alegria assim como de sofrimento, analfabeto das emoções de que recolhe ecos difratados.
Quando a vida é reduzida à vida besta em escala planetária, quando o niilismo se dá a ver de maneira tão gritante em nossa própria lassidão, nesse estado hipnótico consumista do “Bloom” ou do “Homo Otarius”, cabe perguntar o que poderia ainda sacudir-nos de tal estado de letargia, e se a catástrofe não estaria aí instalada cotidianamente ("o mais sinistro dos hóspedes", como dizia Nietzsche a respeito do niilismo), ao invés de ser ela apenas a irrupção súbita de um ato espetacular.

O corpo que não agüenta mais

O que poderia ainda nos sacudir de tal estado de letargia, lassidão, esgotamento? Há uma bela definição beckettiana sobre o corpo, dada por David Lapoujade. “Somos como personagens de Beckett, para os quais já é difícil andar de bicicleta, depois, difícil de andar, depois, difícil de simplesmente se arrastar, e, depois ainda, de permancer sentado... Mesmo nas situações cada vez mais elementares, que exigem cada vez menos esforço, o corpo não agüenta mais. Tudo se passa como se ele não pudesse mais agir, não pudesse mais responder. O corpo é aquele que não agüenta mais”4, até por definição. Mas, pergunta o autor, o que é que o corpo não aguenta mais? Ele não agüenta mais tudo aquilo que o coage, por fora e por dentro.
Por exemplo, o adestramento civilizatório que por milênios se abateu sobre ele, como Nietzsche o mostrou exemplarmente em “Para a Genealogia da Moral”, ou mais recentemente Norbert Elias, ao descrever de que modo o que chamamos de civilização é resultado de um progressivo silenciamento do corpo, de seus ruídos, impulsos, movimentos5... Mas, também, a docilização que lhe foi imposta pelas disciplinas, nas fábricas, nas escolas, no exército, nas prisões, nos hospitais, pela máquina panóptica...
Tendo em vista o que foi mencionado acima, deveríamos acrescentar essa terceira "camada": o que o corpo não agüenta mais é a mutilação biopolítica, a intervenção biotecnológica, a modulação estética, a digitalização bioinformática, o entorpecimento sensorial. Em suma, e num sentido muito amplo, o que o corpo não agüenta mais é a mortificação sobrevivencialista, seja no estado de exceção, seja na banalidade cotidiana. O "muçulmano", o "ciberzumbi", o "corpo-espetáculo", "a gorda saúde dominante", o "Bloom", por extremas que pareçam suas diferenças, ressoam no efeito anestésico e narcótico, configurando a impermeabilidade de um corpo "blindado"6 em condições de niilismo terminal.
Diante disso, seria preciso retomar o corpo naquilo que lhe é mais próprio, sua dor no encontro com a exterioridade, sua condição de corpo afetado pelas forças do mundo e capaz de ser afetado por elas: sua afectibilidade. Como o observa Barbara Stiegler, para Nietzsche todo sujeito vivo é primeiramente um sujeito afetado, um corpo que sofre de suas afecções, de seus encontros, da alteridade que o atinge, da multidão de estímulos e excitações que lhe cabe selecionar, evitar, escolher, acolher7. Nessa linha, também Deleuze insiste: um corpo não cessa de ser submetido aos encontros, com a luz, o oxigênio, os alimentos, os sons e as palavras cortantes - um corpo é primeiramente encontro com outros corpos, poder de ser afetado. Mas não por tudo e nem de qualquer maneira, como quem deglute e vomita tudo, com seu estômago fenomenal, na pura indiferença daquele a quem nada abala...
Como então preservar a capacidade de ser afetado, senão através de uma permeabilidade, uma passividade, até mesmo uma fraqueza? Mas como ter a força de estar à altura de sua fraqueza, ao invés de permanecer na fraqueza de cultivar apenas a força, pergunta Nietzsche e, no seu rastro, Stiegler, Lapoujade? Gombrowicz referia-se a um inacabamento próprio à vida, ali onde ela se encontra em estado mais embrionário, onde a forma ainda não “pegou” inteiramente8, e a atração irresistível que exerce esse estado de Imaturidade, onde está preservada a liberdade de “seres ainda por nascer”... Porém, será possível dar espaço a tais "seres ainda por nascer" num corpo excessivamente musculoso, em meio a uma atlética auto-suficiência, demasiadamente excitada, plugada, obscena, perfectível? Talvez por isso tantos personagens literários, de Bartleby ao artista da fome, precisem de sua imobilidade, esvaziamento, palidez, no limite do corpo morto. Para dar passagem a outras forças que um corpo excessivamente blindado não permitiria. Mas será preciso produzir um corpo morto para que outras forças atravessem o corpo?
José Gil observou o processo através do qual, na dança contemporânea, o corpo se assume como um feixe de forças e desinveste os seus órgãos, desembaraçando-se dos “modelos sensório-motores interiorizados”, como o diz Cunningham. Um corpo “que pode ser desertado, esvaziado, roubado da sua alma”, para então poder “ser atravessado pelos fluxos mais exuberantes da vida”. É aí, diz Gil, que esse corpo, que já é um corpo-sem-órgãos, constitui ao seu redor um domínio intensivo, uma nuvem virtual, uma espécie de atmosfera afetiva, com sua densidade, textura, viscosidade próprias, como se o corpo exalasse e liberasse forças inconscientes que circulam à flor da pele, projetando em torno de si uma espécie de “sombra branca”9. Não posso me furtar à tentação, nem que seja de apenas mencionar, a experiência da Cia. Teatral Ueinzz, que coordeno em São Paulo, na qual reencontramos entre alguns dos atores ditos psicóticos, posturas “extraviadas”, inumanas, disformes, rodeados de sua “sombra branca”, ou imersos numa “zona de opacidade ofensiva”10. O corpo aparece aí como sinônimo de uma certa impotência, mas é dessa impotência que ele extrai uma potência superior, nem que seja às custas do corpo empírico.
Pois é às custas do corpo empírico que um corpo virtual pode vir à tona. Desde o jejuador até o homem-inseto, os personagens de Kafka reivindicam um corpo “afetivo, intensivo, anarquista, que só comporta pólos, zonas, limiares e gradientes”. Como dizem Deleuze-Guattari, num tal corpo se desfazem e se embaralham as hierarquias, “preservando-se apenas as intensidades que compõem zonas incertas e as percorrem a toda velocidade, onde enfrentam poderes, sobre esse corpo anarquista devolvido a si mesmo”11, ainda que ele seja o de um coleóptero. “Criar para si um corpo sem órgãos, encontrar seu corpo sem órgãos é a maneira de escapar ao juízo” do pai, do patrão, de Deus, é uma maneira de fugir a todo um sistema do juízo, da punição, da culpa, da dívida.
Ao invés da dívida infinita em relação à instância transcendente, o embate dos corpos, num sistema da crueldade imanente. Há aí, insistem os autores, nesse corpo desfeito e intensivo, tal como aparece em Kafka, uma vitalidade não-orgânica, inumana, e um combate: “Todos os gestos são defesas ou mesmo ataques, esquivas, paradas, antecipações de um golpe que nem sempre se vê chegar, ou de um inimigo que nem sempre se consegue identificar: donde a importância das posturas do corpo”12. Mas o objetivo do combate, diferentemente da guerra, não consiste em destruir o Outro, mas em escapar-lhe ou apossar-se de sua força. Em suma, o combate como uma “poderosa vitalidade não-orgânica, que completa a força com a força, e enriquece aquilo de que se apossa”.
Mas o que é essa vitalidade não-orgânica? Em “Imanência: Uma Vida”, último texto escrito por Deleuze, comparece um exemplo - o de Dickens. O canalha Riderhood está prestes a morrer num quase afogamento, e libera nesse ponto uma “centelha de vida dentro dele” que parece poder ser separada do canalha que ele é, centelha com a qual todos à sua volta se compadecem, por mais que o odeiem -eis aí uma vida, puro acontecimento, em suspensão, impessoal, singular, neutro, para além do bem e do mal, uma “espécie de beatitude”, diz Deleuze13.

1 - S. Zizek, “Bem-vindo ao Deserto do Real”, São Paulo, Boitempo, 2003, p. 108.
2 - G. Châtelet, "Vivre et Penser Comme des Porcs", Paris, Exils, 1998.
3 - Tiqqun, "Théorie du Bloom", Paris, La Fabrique, 2000, e a revista « Tiqqun », 2001.
4 - David Lapoujade, “O Corpo Que Não Agüenta Mais”, in “Nietzsche e Deleuze - Que Pode o Corpo”, org. D. Lins, Relume Dumará, Rio de Janeiro, 2002, p 82 e seguintes.
5 - Norbert Elias, “O Processo Civilizador”, vol I, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed, 1994.
6 - Juliano Pessanha, “Certeza do Agora”, São Paulo, Ateliê Ed. 2002.
7 - Barbara Stiegler, "Nietzsche et la Biologie", Paris, PUF, 2001, p. 38.
8 - Witold Gombrowicz, "Contre les Poètes", Paris, Ed. Complexe, 1988, p. 129.
9 - José Gil, “Movimento Total”, Lisboa, Relógio d´Água, 2001, p. 153.
10 - http://ueinzz.sites.uol.com.br/home.htm
11 - G. Deleuze, “Crítica e Clínica”, São Paulo, Ed. 34, p. 149.
12 - G. Deleuze, “Crítica e Clínica”, op. cit., p. 149-150.
13 - G. Deleuze, "L´Immanence, Une Vie", in « Deux Régimes de Fous », Paris, Minuit, 2003.
Peter Pál Pelbart

Usuários de Saúde Mental fazem marcha pela Reforma Psiquiátrica

Cerca de 1800 usuários de Saúde Mental de todo o Brasil participaram nesta quarta-feira (30), em Brasília (DF), da Marcha dos Usuários pela Reforma Psiquiátrica Antimanicomial.Organizada pela Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (RENILA) em parceria com o Conselho Federal de Psicologia, a marcha teve como objetivo reivindicar a efetiva aplicação da Lei 10.216, sancionada em 6 de abril de 2001 – a Lei da Reforma Psiquiátrica, também conhecida como Lei Paulo Delgado.Em frente ao Museu Nacional da República, na Esplanada dos Ministérios, os usuários fizeram durante toda a manhã pronunciamentos e participaram de diversas atividades culturais que incluíram exposições de fotos sobre os 22 anos da luta antimanicomial e apresentações de bandas compostas por portadores de transtornos mentais.À tarde, os usuários marcharam até a Praça dos Três Poderes, participaram de audiência na Câmara dos Deputados e foram recebidos no Ministério da Saúde pela ministra interina Márcia Bassit e pelo coordenador da Política Nacional de Saúde Mental, Pedro Gabriel Delgado, que ouviram as reivindicações de usuários, familiares e trabalhadores da Saúde Mental.O aumento de investimentos no Programa de Volta para Casa, que tem como objetivo promover a reintegração social preconizada pela Lei 10.216, foi um dos pontos mais cobrados. Criado pelo Ministério da Saúde em 2003 o programa atende hoje 3.346 pessoas em todo o país. O aumento no controle social e democratização da gestão dos serviços de Saúde Mental também foram reivindicados.A necessidade de realizar a 4ª Conferência Nacional de Saúde Mental, que teria como objetivo discutir amplamente com os setores envolvidos os próximos passos da Reforma Psiquiátrica no Brasil, foi outro ponto lembrado durante o encontro. A última conferência aconteceu em dezembro 2001, apenas 7 meses após a aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica.Ouvir para avançar - Para Sérgio Pinto Santos, que vive no município baiano de Lauro de Freitas e faz tratamento há 25 anos, o Ministério da Saúde precisa ouvir os usuários para que a Reforma Psiquiátrica avance: “A primeira voz da Saúde Mental é o sujeito. Só fui melhorar a partir do momento em que eu fui ouvido, que tive a oportunidade de experimentar a minha cidadania”, disse.O presidente do Conselho Federal de Psicologia, Humberto Verona, concorda. “Da forma como está acontecendo a Reforma Psiquiátrica corre um grande risco de retrocesso, porque está sendo feita de forma isolada. É preciso ouvir todos. Essa marcha mostra que o movimento social da saúde mental está vivo e dizendo isso aos gestores”, avaliou.Para a coordenadora da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (RENILA), Nelma Melo, a consolidação e avanço da Reforma Psiquiátrica são exigências éticas urgentes colocadas para o Sistema Único de Saúde. “Várias mortes estão acontecendo nos hospitais por causa do não-avanço dessa reforma. E a falta desse avanço vai referendando o discurso de que o modelo dos CAPS não dá certo”.A ministra interina Márcia Bassit reconheceu a necessidade de reforçar os investimentos na área de Saúde Mental. “Houve muitos avanços de 2001 a 2009, embora não no ritmo que desejamos”, disse Bassit, que citou como avanços a redução de leitos, a ampliação da cobertura, o crescimento do número de atendimentos nos Centros de Atenção Piscossocial (CAPS) e o aumento dos investimentos em Saúde Mental de R$ 500 milhões para R$ 1,5 bilhão.A secretária-executiva do Ministério da Saúde reconheceu também que é preciso ampliar o controle social nesta área, garantindo que o Ministério da Saúde buscará mecanismos para isso e convocando os usuários e movimentos sociais a colaborarem neste processo.O coordenador da Política Nacional de Saúde Mental, Pedro Gabriel Delgado, classificou a Marcha dos Usuários pela Reforma Psiquiátrica Antimanicomial como um “momento histórico”, lembrando que pela primeira vez na história um grupo de usuários de Saúde Mental estava sendo recebido por gestores do Ministério da Saúde.“É um momento marcante, porque aquela parte que não fazia parte da militância da Reforma Psiquiátrica se tornou sua militância mais importante: os usuários e familiares”, disse o coordenador. “A Lei 10.016 precisa ser defendida. Enfrentamos no Ministério da Saúde diversos ataques a essa lei e temos no movimento social uma aliança importante para defendê-la”, concluiu.

Humanização é o diferencial do modelo brasileiro de doação de leite materno

BRASIL DÁ AULA SOBRE DOAÇÃO DE LEITE
O modelo brasileiro de coleta e doação de leite materno para crianças é considerado o melhor do mundo. E isso quem afirma é a Organização Mundial de Saúde (OMS) . O Brasil, assim, se tornou uma referência mundial na questão, transferindo tecnologiapara 22 países.Possui ainda a maior rede de bancos de leite materno (ou humano) no mundo, com 195 unidades, além de 72 postos de coleta em funcionamento no país. O que diferencia o modelo brasileiro dos estrangeiros é a humanização do serviço. Nós não estamos simplesmente enchendo garrafinhas de leite e distribuindo para as crianças. Há todo um trabalho, um compromisso, com a mulher e a criança - comenta João Aprígio, coordenador da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano. Segundo João Aprígio,umdos criadores do primeiro centro de pesquisa de leite humano da América latina, que funciona no Instituto Fernandes Figueira ( IFF) , no Rio de janeiro, o que diferencia o modelo brasileiro dos demais é o fato de os bancos de leite serem um local de apoio para a mulher que está temporariamente sem condições de amamentar e, especialmente, para os bebês que precisam do leite. - Procuramos dar toda a assistência à mulher para resgatar a lactação dela. Nós procuramos saber: por que a mãe não está amamentando; qual a necessidade do bebê, comenta Aprígio, do IFF, da Fiocruz, onde foi implantado, em 1986, o primeiro centro de pesquisa de leite humano da América Latina. De acordo com Aprígio, a maioria dos bebês que necessita do leite doado é formada por prematuros. Na maioria das vezes, a mãe destes bebês prematuros passou por um estresse muito grande e ainda não desenvolveu a lactação ou não produz leite suficiente, explica. Ele diz que um dos principais trabalhos nos 196 bancos de leite e centros de pesquisa nacionais é fazer justamente a reaproximação da mãe com o bebê. Isso é feito com terapias, massagens e muita orientação. A preocupação não é só com o leite, mas com a relaçãoentre mãe e filho, diz. Esta abordagem humanística acabou levando o Brasil a ganhar um prêmio da Organização Mundial de Saúde, em 2001 e, junto a ele, o convite para ajudar 22 países da comunidade íbero-americana ( Portugal, Espanha e países de línguas latinas das Américas) a implantar modelo semelhante. Em Madri, na Espanha, o novo modelo está funcionando com êxito há dois anos. É uma cooperação diferente, do Sul para o Norte - diz Aprígio, com orgulho.
SAÚDE - Jornal O Dia - RJ

Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes

Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do psicólogo.

Ano da Psicoterapia - Textos Geradores

http://www.pol.org.br/pol/export/sites/default/pol/publicacoes/publicacoesDocumentos/livro_psicoterapia.pdf