segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

XI Encontro Nacional de Aleitamento Materno

Mensagem da Presidente
Dra. Tereza Toma

Caros amigos e colegas,

Com muita alegria, em nome da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN Brasil) e da Rede Social de Amamentação Santos e Região, anunciamos a 11ª edição do Encontro Nacional de Aleitamento Materno (ENAM), que será realizado na cidade de Santos, SP, de 8 a 12 de junho de 2010.
Visite e inscreva-se em: http://www.enam2010.com.br

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Chega de Angústia, Chegou a Depressão!

Nestas duas últimas décadas, sobretudo nos anos 90, aconteceu uma mudança radical. Mudou a tonalidade dominante das queixas e do sofrimento psíquico. Nosso mal-estar passou a se expressar de maneira nova, trocou de dialeto, de aparência e de cheiro: somos cada vez menos angustiados e cada vez mais deprimidos.

A angústia foi boa companheira da modernidade durante quase dois séculos: do romantismo ao existencialismo, ela se encarregou de representar o mal-estar de nossa cultura.

Além do gosto acre de suor frio, além da sensação de vazio interno, de suspensão sem fôlego, além do sofrimento ser angustiado foi, nessa época toda, um chique literário e filosófico. Ou melhor, uma espécie de marca retórica que confirmava a seriedade das apostas e do envolvimento com a verdade. Você quer ser levado a sério? Mostre-me suas angústias! Elas não mentem.

Hoje, o mesmo passou a valer para a depressão. Além do bafo de dentes não escovados e do relento da cama desfeita, a depressão também é um chique. Desde ‘Darkness Visible’ de William Styron (em 1990), se multiplicam os relatos de catástrofes depressivas e lutas heróicas. Em dez anos, já são centenas, uma espécie de gênero literário autônomo.

Essa constatação cultural e clínica é corroborada pela inquietação dos organismos internacionais que monitoram nossa saúde. A depressão é hoje nos países ocidentais, o inimigo número 2: a condição mais invalidante depois das doenças cardíacas. É um fato no mínimo curioso para um sintoma que, até 15 anos atrás, mal era reconhecido em sua autonomia.

O que aconteceu? Uma epidemia? Algum novo vírus? Sem dúvida, a indústria farmacêutica sabe promover as doenças para as quais ela tem um remédio com boa perspectiva comercial. Ou seja, ela encontra um remédio, em seguida nomeia a doença curada por ele, a faz existir culturalmente e, portanto, nos sugere (ou impõe) sofrer segundo sua forma. O que garante que a gente recorra ao remédio que está na origem da empreitada. De fato, os antidepressivos comercializados no fim dos anos 80 inauguraram o sucesso da depressão. Foi com a descoberta do Prozac que a depressão passou a existir como fenômeno cultural e se constituiu como uma entidade nosográfica popular.

Nessa direção, vale a pena ler o livro de David Healy, “The Antidepressant Era” (Harvard 1998). Healy argumenta que a idéia da depressão como patologia específica foi um achado dos laboratórios à caça de clientes para sua nova invenção: os remédios que aumentam a serotonina (Prozac, Paxil, Zoloft etc.). De fato, nos últimos anos, várias pesquisas vêm mostrando que o déficit de serotonina talvez não seja a razão biológica única, ou mesmo decisiva da depressão, e sugerem uma visão mais complexa tanto das depressões quanto de sua abordagem terapêutica.

Nesse clima, seria tentador considerar que o sucesso cultural da depressão seja só um efeito da invenção dos antidepressivos. Mas a idéia não alcança.

Seria impossível afirmar, por exemplo, que o sucesso da angústia foi produzido pela invenção dos ansiolíticos: a angústia começou bem antes. Em outras palavras, as formas de nosso mal-estar não dependem só das sugestões farmacêuticas.

Resta que, neste fim de século, com a ajuda dos laboratórios, a depressão ganhou da angústia. Hoje parece mais interessante (e mais bem recebido socialmente) ser deprimido do que angustiado. A depressão parece mais verdadeira, como se ela manifestasse o que somos, melhor do que a angústia.

Por que? Posso propor uma hipótese: a angústia foi a primeira forma do mal-estar moderno, a expressão do drama de gerações que renunciaram ao mundo ordenado por tradições e hierarquias e tentaram caminhar por conta própria. Ela é a companheira das grandes expectativas, dos futuros incertos, sonhados e receados. Ela é, em suma, o mal-estar do liberto: e agora? O que fazer? Aonde ir?

Ora, contemporânea à chegada do Prozac e da depressão, surgiu (e vem ganhando terreno) a idéia de que a história acabou: basta de expectativas e sonhos incautos. Nem tudo é perfeito, mas alcançamos a época dos ajustes finais. Não cabe mais projetar grandes mudanças e sofrer entre anseios e ansiedades, se perguntando como as coisas do mundo vão ficar. O mundo está mais ou menos resolvido. Está na hora de se ocupar da gente, de sorrir, ou fazer caretas no espelho, até ficarmos convencidos de que somos felizes e bonitos.

Com isso, ficamos, sobretudo, deprimidos, pois qualquer furúnculo na ponta do nariz afeta o que mais nos importa: a nossa própria imagem. É uma razão para não sair de casa, ficar na cama, deixar de ser e de fazer, contemplando no espelho o retrato de nossa inadequação.

O anseio de futuros gloriosos, em suma, está sendo substituído por uma inconsolável e preguiçosa tristeza: o furúnculo especular nos imobiliza e, assim como a consciência para Hamlet, nos torna, eventualmente, todos covardes.

Trocam-se, por assim dizer, aspirações e ideais, por um bom creme antiacne.
Contardo Calligaris
Folha de São Paulo

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Perigosa Moda de Trabalhar com Grupos na Área da Saúde

As transformações socioeconômicas e tecnológicas atuais estão modificando profundamente a existência das pessoas, comunidades e organizações, o que tem exigido dos profissionais de saúde novas metodologias, além de tratamento, a promoção da saúde social.
A intervenção grupal nos últimos anos é desenvolvida nos vários níveis da área de saúde constituindo um dispositivo valioso seja com grupos terapêuticos, grupos de convivência, grupos comunitários, grupos de educação em saúde e outros. Grupos de idosos, adolescentes, pais, mulheres na menopausa, gestantes, casais, nutrizes, familiares, hipertensos, diabéticos, mastectomizadas, dependentes químicos, neuróticos etc.
Por paixão, surgimento de problemas ou para cumprir alguma encomenda, muitos profissionais de saúde, se organizam em torno de um tema cuja complexidade exige intervenções de diversas áreas, geralmente sem ouvirem a demanda real, desejo ou necessidades da clientela e implantam um determinado programa.
O que é preocupante é observar que raramente existe conhecimento a respeito das teorias e práticas grupais entre os que conduzem os grupos.
O grande perigo neste caso é de que uma prática potencialmente transformadora e democrática acabe sendo utilizada pelo profissional de saúde para controlar, abordar ou instruir um grupo de pessoas. Muitas vezes, o profissional acaba repetindo nos grupos a dinâmica da sociedade com atitudes autoritárias, alienantes, paternalistas ou assistencialistas. Assistencialismo não significa apenas doação de bens materiais. Mas, também, a assistência afetiva e emocional que sustenta relações de dominação, de sufocamento dos sentimentos dos usuários, que inviabiliza a sua capacidade de refletir sobre si mesmo, sobre o social e de transformar a realidade.
Em geral o profissional negando os saberes da população acredita que é superior e que seu saber é melhor porque é científico. Assim, o usuário é constrangido a ser platéia enquanto o profissional elevado a protagonista despeja intempestivamente informações desatualizadas, conselhos e orientações desnecessárias geralmente usando linguagem científica e o material de apoio de forma inadequada. Ou simplesmente formata uma programação engessada e quer metê-la goela abaixo dos usuários de saúde. Sem considerar as necessidades e o momento de vida daquele grupo. Tudo em nome de um trabalho organizado!
Nos grupos, há de um lado os participantes com sua história de vida, condição social, cultural, saberes, concepções, valores, sentimentos e desejos singulares e do outro o profissional de saúde.
Trata-se de um momento de dizer em que e o usuário e profissional se apresentam com marcas de seu viver e onde falas e gestos fazem parte de uma complexa comunicação em que os dois devem ser considerados.
Cada grupo é único e é imprevisível o que ocorrerá em cada encontro.
Num grupo democrático, os temas devem emergir do grupo. O coordenador interfere ajudando a desfazer as resistências dos participantes no tema, mostrando a sua compreensão a respeito das dificuldades que surgem, colocando em circulação as falas das pessoas, tirando do grupo o entendimento, as decisões e soluções para os problemas e conclusões, respeitando o conhecimento, as necessidades e a cultura de cada grupo.
A função do coordenador é facilitar, acolher e escutar os afetos, sentimentos, dúvidas, temores, sofrimentos e saberes dos participantes por mais estranhos que pareçam.
A maioria das atividades grupais é ineficaz pelo fato das capacitações tradicionais para os trabalhadores da saúde serem prescritivas, baseadas apenas na transmissão de conteúdo e no conhecimento especializado sem espaço para o diálogo e a troca de experiência. Tais modalidades grupais não passam de um “amontoado de pessoas para um atendimento por atacado”, vazio de significado para a vida das pessoas.
É preciso que o profissional avalie e reflita permanentemente sobre as práticas de intervenções grupais em saúde. Entenda e saiba lidar com as dinâmicas, relações e afetos produzidos nos grupos para saber escutar, intervir e informar adequadamente no momento oportuno.
Somente atuar de forma democrática, transdisciplinar, integrada e empática na comunidade, nas instituições públicas ou privadas fará com que os cidadãos possam se beneficiar da experiência do encontro.

Angela Maria Amâncio de Ávila - Psicóloga - CRP-04/2683
Especialista em Psicologia Social
Artigo publicado no Jornal Clarim de Araxá - junho 2007.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Fragmentos

"como dice nuestro amigo Marcelo Percia, "la angustia es una afección anticapitalista", porque nos permite una potencia emancipadora que conecta directamente al deseo, y posibilida habitar la inconformidad, que no es insatisfacción.

Fragmento do texto ESPACIO UTOPÍA ACTIVA : SOCIEDAD DE AMIGOS - LA PRODUCCIÓN DE VIDA Y ESQUIZOANÁLISIS


Clínica Esquizoanalítica

Este texto visa resumir alguns pontos fundamentais na compreensão da prática clínica esquizoanalítica.
Provisório e descartável... um estradear pelos planos de vida que são gestados no dia-a-dia da vivência clínica, onde os conceitos saltam dos livros e ganham uma vitalidade à nível das intervenções.

1. Sempre temos em mira que urge unir desejo e produção.
O desejo em Freud era pura reprodução, reedição teatral do triângulo edípico, e aqui é invenção e vida, novidade e criatividade.
A produção criativa do desejo e desejo criativo de produção... nos afastam da idéia de viver pelas faltas e nos permite seguir, degustando e fabricando mais vida pelo excesso.
Desejo-produção é unido com a superação do funcionamento marcado pela castração e consequente eterna falta e pela indrodução da exploração ativa do que podemos viver pela abundância, já que o inconsciente é produtivo e desejante, é excesso, sendo a falta apenas o registro da restrição imposta na formatação da subjetividade capitalísitica.

2. A intervenção clínica e social na esquizoanálise se dá na potência do e e dos entres...
Somos es... multiplicidades que negligenciamos pelo monopólio da identidade egóica... Deleuze afirma que é necessária matar o ego...
Devemos explorar os es ... nossos e da vida. Rizomatizar o próprio funcionamento e a própia vida.
No entre, transversalizamos as relações, e alisamos os espaços, que ao perder seus estriamentos se abre para a viabilização dos bons encontros e das paixões alegres.

3. Tudo se resume na idéia de que o valioso é caçar linhas de fuga, e para tanto identificar e anular/ desmontar as linhas de captura.

4. Não é uma clínica que se realiza à moda do trabalho das fábricas nem da racionalidade cartesiana-positivista, se inventa à moda dos bárbaros, dos loucos, das crianças e dos artistas... É brincar, é arte, é desrazão e é performace...

5. Ela se clareia quando visualizamos suas tarefas:

- tarefas negativas: corroer a identidade egóica; inibir, anular, desmontar as repetições, os bloqueios, os complexos; coibir os atravessamentos, o instituído e o organizado...
- tarefas positivas: fabricar linhas de fuga, singularizar-se, explorar e intensificar as multiplidades, experimentar o novo, dar-se ao devir e permitir-se diferente, buscar o acontecimento...
Em tudo , com todos, raspar o pólo paranóico e liberar as intensidades vivas do pólo esquizo.

6. Criar, montar uma caixa-de-ferramentas, roubando de todos os lugares o que possa ser útil à produção de vida.

7. Nunca interpretar, não sobrecodificar... Agenciar, bifurcando e propiciando as experimentações que ousem descobrir o que pode um corpo.

8. Resgatar Nietszche, com sua posição de desejo – vontade de potência e relações ativas de libertação.

9. Entender que temos tudo como virtualidade que a intervenção deve realizar a atualização da realteridade.

10. Ser cúmplice de Deleuze, quanto vê na arte a terapia mais efetiva...

11. Não normatizar crises, mas entendê-las como situações caosmóticas, espaços de reinvenção da vida e de si mesmo.

12. Recuperar o entendimento de vivermos três ecologias – meio ambiente, socius e subjetividade, e que todas necessitam estar sendo trabalhadas para que o homem não seja escravo de seus sintomas e histórias, mas que desperte na terapia para a construção de uma nova Terra e de um povo por-vir

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Uso de Antidepressivos por Nutrizes Pode Atrasar a Produção de Leite Materno

Mulheres que tomam uma das classes mais vendidas de antidepressivos podem apresentar atraso na produção de leite materno depois do parto e precisar de suporte adicional para atingir as suas metas de aleitamento. É o que diz estudo aceito para publicação na revista "The Endocrine Societys Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (JCEM)".

A amamentação beneficia os bebês e as mães em diversos aspectos. Como o leite materno é de fácil digestão e contém anticorpos que protegem contra infecções bacterianas e virais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que as crianças sejam amamentadas exclusivamente pelo menos nos seis primeiros meses de vida e que continuem sendo amamentados até 2 anos ou mais. E os autores da pesquisa alertam que o consumo de alguns medicamentos antidepressivos pode estar ligado a uma dificuldade conhecida como "atraso da ativação secretora".

A capacidade de os seios secretarem o leite na hora certa está intimamente relacionada com a produção e regulação do hormônio serotonina - diz Nelson Horseman, da Universidade de Cincinnati e principal autor do estudo. - Drogas comuns como fluoxetina, sertralina e paroxetina, chamados de inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) podem afetar o humor, a emoção e o sono; e elas também podem ter impacto na regulação da serotonina na amamentação. Isto aumenta o risco de atraso na lactação, na oferta de leite materno de forma exclusiva.

No estudo, os cientistas examinaram os efeitos das drogas ISRS na lactação a partir de estudos de laboratório de linhagens de células humanas, de animais e ratos geneticamente modificados. Além disso, uma análise de observação avaliou o impacto das drogas ISRS sobre o início da produção de leite em depois do parto. Os autores acompanharam 431 mulheres e o início médio da lactação pós-parto foi de 85,8 no grupo que tomava antidepressivos e 69,1 horas nas mães não tratadas com as drogas. Os pesquisadores geralmente definem o atraso na ativação secretora quando ele ocorre mais de 72 horas depois do parto.

Essas drogas são úteis para muitas mães. Precisamos de mais pesquisas com humanos antes de fazer recomendações específicas sobre o uso de antidepressivos ISRS durante a amamentação - diz Horseman.




Autor: O Globo online - Prof. Marcus Renato de Carvalho
Data: 8/2/2010
www.aleitamento.com