sexta-feira, 26 de junho de 2009

Aos 40 Anos do Movimento Gay, Repressão Persiste!

Aos 40 anos do movimento gay, repressão resiste e homoterrorismo avança. Por que e até quando?

1969, Stonewall, Nova York. 2009, atentado com bomba na Parada Gay em São Paulo. Após sucessivas batidas policiais com humilhação e prisão no Bar Stonewall, reduto gay do Greenwich Village em NY, os homossexuais reagiram e se rebelaram contra a polícia; a rebelião ganhou o apoio dos passantes e os policiais recuaram.
É o marco histórico do início do movimento de emancipação e liberação dos homossexuais e do combate à homofobia. No ano seguinte, deu-se a primeira Parada Gay. Em São Paulo, além da bomba atirada numa sacola do alto de um prédio, outras agressões deixaram rapazes feridos. Um deles morreu. Aos 40 anos de Stonewall, ataques como o de São Paulo estão além da homofobia. São atos de homoterrorismo. Apesar das transformações nos costumes e leis e da maior liberdade de expressão da opção sexual, prevalece, mundo afora, a repressão através de atos de guerra. No Brasil, o número de assassinatos de homossexuais aumentou 55% em 2008 em relação ao ano anterior, revela a pesquisa anual sobre crimes com motivação homofóbica, do Grupo Gay da Bahia (GGB).
Como se explica o homoterrorismo? Como a homofobia, termo que designa medo, se transforma em ódio? Por um lado, podemos pensar a partir da lógica da exclusão do diferente e situar o homossexual ao lado do negro e do judeu, vítimas de discriminação e intolerância (o triângulo gay era cor-de-rosa nos campos de concentração) e também, como se tem visto, aqueles que frequentam religiões “fora da norma”, como a Umbanda, alvos de agressões em seus templos. As mulheres, acrescente- se, continuam a ser discriminadas.
Essa norma mítica, que se confunde com o “normal”, é a do “branco, masculino, jovem, heterossexual, cristão, financeiramente seguro e magro” (cf. Dollimore). O homossexual provoca o imaginário de um gozo outro, tão diferente, e ao mesmo tempo tão semelhante. Para a consciência da norma, é melhor qualificá-lo de pervertido, não-confiável, pois um gozo periférico, daí ser perigoso. Como disse Arnaldo Jabor, os gays “ (...) sempre foram uma fonte de angústia, pois atrapalham nosso sossego, nossa identidade ‘clara’. O gay é duplo, é dois, o viado tem algo de centauro, de ameaçador para a unicidade do desejo... o gay sério inquieta... o gay de terno, o gay forte, o gay caubói são muito próximos de nós (...).”
Ao responder a uma mãe extremamente preocupada com a homossexualidade de seu filho, Sigmund Freud (que assinara uma petição pela descriminalização da homossexualidade) aponta, em 1935, que não é nenhuma desvantagem, nem vantagem, “não é motivo de vergonha, não é uma degradação, não é um vício e não pode ser considerada uma doença”. Apesar disso, só em 1973 a American Psychiatric Association (APA) deixou de classificar a homossexualidade como doença. E depois que ativistas gays, por duas vezes (1970 e 1971), invadiram seu encontro anual. A psicanálise, na mesma direção, se opõe à pedagogia dodesejo, pois esta é uma falácia.
Não se pode educar a pulsão sexual, desviá-la para acomodá-la aos ideais da sociedade. A pulsão segue os caminhos traçados pelo inconsciente, individual e singular. A pulsão não é louca: obedece à lógica de uma lei simbólica a que todos estamos submetidos.

................................................Parada Gay, SP - 2009


Para a psicanálise, o interesse exclusivo de um homem por uma mulher também merece esclarecimento. A investigação psicanalítica, diz Freud em seu texto premiado sobre Leonardo da Vinci, opõe-se à tentativa de separar os homossexuais dos outros seres como um “grupo de índole singular”, pois “todos os seres humanos são capazes de fazer uma escolha de objeto homossexual e que de fato a consumaram no inconsciente”. Ou seja, a bissexualidade é constitutiva de todos, seja a escolha homossexual praticada ou não. O complexo de Édipo, que cai no esquecimento, comporta também a ligação libidinal do filho para com o pai e da menina para com a mãe, além das ligações do filho com a mãe e da filha com o pai. Assim, o número de homossexuais que se proclamam como tais, diz Freud, “não é nada em comparação com os homossexuais latentes”. Há uma diversidade enorme na homossexualidade tanto na praticada quanto na latente e sublimada. Devemos falar, portanto, de “homossexualidades”.
As sexualidades são tantas quanto existem os sujeitos, determinadas pelas fantasias de cada um. A questão que se coloca nesse episódio de terror é como cada um lida com sua homossexualidade (patente ou latente) que se materializa nas amizades, nas relações entre parentes do mesmo sexo e em todo ajuntamento social.
Segundo Freud, a libido homossexual é o cimento dos grupos e da massa, assim como a raiz dos ideais subjetivos de cada um se encontra em seu narcisismo (do amor por si mesmo e até a auto-estima). O “amar aos outros como a si mesmo” tem claramente fundamento homo (igual) erótico.
A aceitação da homossexualidade do outro se encontra na dependência de como o sujeito lida com a sua própria. Quanto mais ele a rejeita em si mesmo, menos saberá lidar com ela, podendo fazer desse outro um objeto de ódio, de agressões e até de assassinato. Dentro de uma cultura machista e falocêntrica (existe no ocidente alguma que não o seja?) parece mais fácil para a mulher lidar com sua homossexualidade do que o homem. Não é à toa que o lipstick lesbian virou moda entre as meninas. O que está longe de ser o caso para os meninos que cedo, muitas vezes na escola, aprendem a prática do homoterrorismo. A aceitação do outro como sexuado, diferente e independente, podendo fazer suas próprias escolhas de gozo sem ter que se desculpar, é um índice de civilização. O contrário é a barbárie.

ANTONIO QUINET é psicanalista e doutor em filosofia.

Fonte: http://oglobo.globo.com

Financiamento CAPS

Até o mês de junho desse ano, nenhum novo CAPS havia sido cadastrado no Brasil, assim como as verbas de incentivo para a implantação de novos Centros, também estavam interrompidas. Com a regularização desta situação, 68 novos serviços foram cadastrados e as verbas de incentivo já estão novamente à disposição dos municípios interessados. Normalmente, esse valor é disponibilizado entre 1 mês e meio e dois meses, após a assinatura do Termo de Compromisso pelo Gestor de Saúde. Para os CAPS II são liberados 30.000,00 em parcela única. Assim que este valor chega à conta do município, o Centro deve começar a funcionar no prazo máximo de 3 meses. Isto não ocorrendo, o valor deve ser devolvido ao cofres do Governo Federal. Já o prazo para o cadastramento de um novo CAPS pelo Ministério da Saúde, dependerá da existência de recursos no orçamento da União, não havendo como prever esta ação. O repasse da verba para o financiamento mensal dos CAPS já cadastrados, não está mais vinculado à produção, porém, se o serviço não apresenta a produção corretamente, o departamento de Controle e Avaliação poderá entender que o serviço não está funcionando adequadamente. No caso de um levantamento por série histórica de procedimentos, os serviços que não informam sua produção podem ter o seu recurso diminuído. O valor a ser repassado aos CAPS II é de 32.000,00 (trinta e dois mil reais mensais).

Saúde Mental - Vídeoaulas

http://www.portalminassaude.com.br/video.php

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mais Que Teatro

O filósofo e ensaísta Peter Pál Pelbart, além das funções de autor e de professor no Departamento de Filosofia e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), coordena um grupo de teatro que causa grande interesse tanto na classe artística quanto no público em geral. No entanto, não se trata de um grupo que pesquisa novas linguagens ou experimenta diferentes estéticas. O particular nesse caso é que a Cia. Teatral Ueinzz é formada exclusivamente por pessoas com distúrbios mentais. "O modo como esse grupo nasceu é muito significativo para nós. É o símbolo de como aquilo que não se entende - o não-sentido - pode servir de terreno para um projeto de expansão da vida, individual e coletivo", contou em conversa com o Conselho Editorial da Revista E. O convidado deste mês da seção Encontros já publicou vários livros sobre o tema da loucura, entre eles O Tempo Não-Reconciliado (Perspectiva, 1998), A Vertigem por Um Fio (Iluminuras, 2000) e, mais recentemente, Vida Capital: Ensaios de Biopolítica (Iluminuras, 2003).
Há cerca de 20 anos, comecei a trabalhar no hospital-dia A Casa - trata-se de um local de tratamento destinado a pessoas portadoras de sofrimento psíquico, que substitui as instituições clássicas de internação psiquiátrica. Ali os pacientes passam das 9 às 17 horas, durante a semana. Eu já era formado em filosofia e queria fazer mestrado sobre o tema da loucura. Então comecei a freqüentar esse hospital-dia para me familiarizar minimamente com o assunto. Apesar de meu interesse acadêmico, acabei me envolvendo no trabalho terapêutico, e fiquei por lá mais de 15 anos, em atividades as mais diversas. Um grupo do qual eu participava resolveu, num certo momento, convidar dois diretores de teatro, Renato Cohen e Sérgio Penna, para uma experiência teatral. A partir daí, nasceu um grupo de teatro que cresceu tanto que se tornou autônomo em relação à própria instituição. É a Cia. Teatral Ueinzz. Nós já existimos há dez anos e fizemos várias apresentações aqui em São Paulo. Até no Sesc Pompéia fizemos uma temporada. A peça se chamava Gotham-SP, era sobre o Batman. Todos me perguntam de onde saiu esse nome, Ueinzz. Numa das primeiras reuniões que fizemos com os diretores, foi proposto um exercício sobre a comunicação entre os seres vivos, que se dá através da linguagem, da mímica, da gestualidade etc. O exercício, então, era testar como as pessoas mantinham entre si uma comunicação. Perguntaram a cada um dos pacientes como eles se comunicavam, ou em que línguas eles falavam. Um deles, que há anos se mantinha calado, respondeu: "Em alemão". Aí o questionaram, novamente, indagando qual palavra ele falava nessa língua. E ele disse: "Ueinzz". Perguntamos o que significava "ueinzz", e ele respondeu: "Ueinzz". Quer dizer, uma palavra que significa a si mesma, cujo sentido para nós é um enigma total. Depois disso, fizemos uma peça inteira em torno desse som. O roteiro básico era o seguinte: uma trupe perdida no deserto cruza vários obstáculos, entre eles um oráculo, a quem pergunta: "Grande oráculo de Delfos, onde fica a torre babelina?". No espetáculo o ator que falava "alemão" era o oráculo, e devia responder: "Ueinzz". Esse é um som misterioso, um oráculo diz sempre um mistério, que cabe a quem o consulta interpretar. A partir de então, trabalhamos com esse som. Não tem um sentido pronto, é uma abertura de sentidos, são mil sentidos possíveis e nós fizemos disso o mote daquela peça. É uma analogia com as próprias pessoas tidas como loucas: elas dizem coisas que às vezes não entendemos, que rompem com o sentido original das palavras, dos gestos e das condutas, e nos colocam diante de um enigma. Em vez de achar que aquilo é puro ruído e que não serve para nada, poderíamos fazer o contrário: acolher aquela ruptura de sentido, dar-lhe um lugar, permitir que tivesse um efeito. Nessa peça, esse som foi trabalhado musicalmente. Quando o oráculo, um sujeito baixinho, gorduchinho e de bigode - parecido com um Buda turco -, respondia "ueinzz", esse som circulava pelo teatro, em círculos concêntricos, graças ao trabalho do compositor Wilson Sukorski. Isso tinha um poder de evocação de dimensões desconhecidas. O modo como esse grupo nasceu é muito significativo para nós. É o símbolo de como aquilo que não se entende - o não-sentido - pode servir de terreno para um projeto de expansão da vida, individual e coletivo.
Formas de vidaMeu envolvimento com essa atividade teatral não tem nada a ver com assistência social. Ocorre que pessoas como as que compõem esse grupo são desqualificadas pelas pessoas ditas normais, são alvo de um preconceito social, e em geral se considera que elas não fazem nada nem dizem coisa com coisa - trata-se de um consenso muito antigo sobre a loucura. Mas nossa aposta é que basta montar um dispositivo apropriado para que seja possível enxergar uma potência vital insuspeitada, ali onde todos viam impotência. Por vezes, presenciamos maneiras distintas de falar, de perceber, de sentir, de sonhar, gestos, posturas - eu chamaria isso tudo de formas de vida singulares - que são esquisitas para nós. Mas essas formas de vida, ditas minoritárias, têm uma inventividade própria. E colocam em xeque o nosso jeito, pretensamente normal e saudável. Nós nos achamos tão racionais, inteiros, saudáveis, que esse excesso de normalidade, no fundo, talvez seja a nossa doença. Essa nossa normalidade nos impede de sentir, de imaginar e de pensar muitas coisas. Não estou dizendo que os loucos são artistas inventivos e fabulosos, e que os normais são decrépitos e insossos. Mas há um desafio contemporâneo que consiste em abrir-se à alteridade. Essas diferenças todas que nos circundam, às vezes sob um modo muito sofrido, até de um certo colapso psíquico, nos questionam. O desafio não é só acolher esses modos "menores" de viver, e assim dialogar com a alteridade, seja sob qual forma ela se apresente, mas também perfurar uma certa blindagem que nos envolve e paralisa. Uma espécie de padronização que nos impede de reativar nossa própria imaginação e inventividade.Natural displicência Do ponto de vista estético, esse trabalho revela aspectos muito curiosos. Há muitos atores profissionais ou diretores de teatro que vêm nos assistir com grande interesse. Eles vêem um tipo de atuação que, às vezes, é o que eles mesmos estão buscando em suas pesquisas. Uma vez, o Lívio Tragtenberg veio tocar com a gente em uma peça, e tem um sujeito lá que canta Roberto Carlos. E canta com uma desafinação tamanha que é absolutamente comovente. Mas ele está tão convencido de sua musicalidade que sempre corrige os músicos que não o estão "acompanhando direito". Depois de uma apresentação, o Lívio disse: "Preciso levar esse cara a um show meu, porque ele é muito bom". Então, eu perguntei o que o havia interessado tanto. Ele respondeu: é que o sujeito "não está nem aí". Fiquei com essa frase na cabeça. Quando se entra em um palco, cada um assume um personagem. Eles também o fazem, com muito empenho, mas, ao mesmo tempo, é como se tratassem com uma certa displicência o papel que representam. O resultado é muito estranho, não tem nada de bonitinho. É como se fosse borrada a fronteira entre vida e arte - algo que a arte contemporânea tenta fazer a seu modo. Não é que nossos atores tenham um pensamento sobre esse tipo de arte, mas para eles essas fronteiras não são óbvias. Há, sim, uma ruptura de linguagem, que eles, a sua maneira, suscitam. Isso vai ao encontro de um certo ideal do teatro contemporâneo: romper com a narrativa, com o tempo linear, com a representação muito solene, tudo isso faz parte do ideário de qualquer diretor contemporâneo. Na nossa trupe, isso está em estado bruto, por isso muita gente de teatro se interessa por essa experiência. Além disso, eu acho os espetáculos hipnóticos, encantadores. O espectador entra em uma espécie de imersão sensorial muito esquisita. Porque ele não está tão preocupado em entender, mesmo porque não dá para entender direito. Ele se deixa levar por uma experiência que é de outra ordem, que não a da intelecção, do entendimento propriamente dito. É da ordem da afetação, as pessoas se deixam afetar de um modo muito forte. Clinicamente, isso não é uma terapia, então, não é para curar ninguém. Mas tenho certeza de que o teatro - como as artes em geral, no que elas oferecem de expressividade vital - é "terapêutico" para qualquer um, inclusive para nós. Eu diria que dificilmente alguém entra em uma experiência tão forte, rica e bonita sem que isso agregue a sua vida um tanto de tesão, de vitalidade, de alívio e sociabilidade, ou seja, tudo isso é absolutamente terapêutico.
Portal SESC SP - Revista e

Prevenção ao abuso de drogas, tratamento e reabilitação

http://www.unodc.org/brazil/pt/prevencao_drogas.html

Relatório Mundial Sobre Drogas 2009

http://www.unodc.org/brazil/pt/ASCOM_20090624.html

X Reunião de Colegiado de Coordenadores de Saúde Mental

Entre os dias 22 e 24 de junho, aconteceu em Brasília na sede da OPAS/OMS, a X Reunião de Colegiado de Coordenadores de Saúde Mental, incluindo uma Capacitação para Novos Gestores. Lá estavam Coordenadores de Saúde Mental de Estados e Municípios do Brasil, entre eles Araxá. Durante o encontro foram discutidas as Políticas Públicas de Saúde Mental instituídas pelo Governo Federal, que tem como pilar absoluto de sustentação, a Reforma Psiquiátrica. O Coordenador Nacional de Saúde Mental, Pedro Gabriel Delgado, assim como os demais representates do Ministério da Saúde presentes no encontro, reafirmaram o compromisso do Governo Federal com o processo de desinstitucionalização, apesar da forte pressão política exercida no sentido oposto, pelo movimento da contra reforma. Nesse sentido, os participantes foram convocados a trabalharem duro rumo à ampliação e consolidação das políticas de saúde mental em seus Estados e Municípios. Também esteve presente, Benedetto Saraceno, Diretor do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da Organização Mundial de Saúde - OMS. Saraceno pediu ao Ministro da Saúde, José G. Temporão, que assine o Documento Mental Health Gap. O programa contará com a participação de ONGs internacionais, instituições científicas e governos de países que sejam referência no assunto nesse setor. O Brasil foi escolhido juntamente com outros 9 países, e terá sua experiência levada como modelo exitoso para todo o planeta. A OMS reconhece que o Brasil tem um papel de liderança no continente e fora do continente nessa área. Ele afirmou que apesar das dificuldades enfrentadas pelo país para a consolidação da reforma, somos uma das mais bem sucedidas experiências nesse âmbito em todo o mundo. Na opinião de Karime Pôrto, Coordenadora Nacional de Saúde Mental Adjunta, não há dúvidas sobre o destino escolhido (o fim dos manicômios). A busca constante é pela construção dos caminhos a serem trilhados rumo ao destino traçado. A nós que aceitamos o convite resta continuar seguindo em frente, sem olhar para trás, vislumbrando o vasto horizonte que se descortina diante de nossos olhos e corações. O desafio está colocado! Saudações antimanicomiais.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Comida, Substantivo Feminino

Cresci sob o paradigma do feminismo. Questionar a igualdade dos sexos seria idiota.
Dirijo um carro, comando equipes, pago contas, faço sexo, assisto futebol, troco lâmpada, fusível, disjuntor e resistência. Faço jogo político, bebo cerveja, como fritura e lavo o carro - com cera, anti-chuva, silicone e pneu pretinho.Na mitologia grega, o símbolo do casamento são duas pessoas de costas uma para a outra. Uma carrega uma espada, a outra, um espelho. A interpretação mostra que a paz de uma casa depende de dois mundos: o externo, de onde vêm as provisões e inimigos como ladrões e ameaças da natureza; e o interno, de onde vêm o repouso, a inspiração, a energia e inimigos como auto-sabotagem, conflitos e angústias. Os inimigos externos são combatidos à lança; os internos precisam ser vistos ao espelho. A despeito de todo esse significado, a espada de Hermes (Marte, para os romanos) e o espelho de Afrodite (Vênus) estampam bolinhas com setas e cruzes em portas de banheiro. E há quem diga que o espelho é o ícone da mulher por causa da preocupação com a aparência.O fato é que as mulheres - vaidosas ou não - assumiram funções masculinas. E os homens continuam homens. Enquanto ambos estão em campo, lutando pela sobrevivência, quem vigia os lares? Quem cuida do corpo, das crenças, das relações? Os inimigos internos são tão reais e perigosos como os outros e estão cada vez mais na moda.Prestei consultoria a uma super executiva recentemente. Ela trajava um vestido rosa lindo, com um laço. Um soldado de sapatilhas.Eram 22h. Havia chegado há pouco do trabalho, tão corrido que nem almoçou. Acontece muito. O marido comeu na rua. Ele nunca janta. Ninguém janta, aliás. A família, com dois filhos em fase de crescimento, nunca se reúne à mesa numa refeição caseira. Comida só na rua, só de rua. Mastigam coxinhas, salgadinhos, enroladinhos, hot pocket, pizza, japonês, chinês, bolacha e chocolate. Muito chocolate.Por milênios, a mulher teve a incumbência de preparar os alimentos e tratar da plantação. Comida é assunto de mulher. Serve para alimentar, acalentar, seduzir, acordar, relaxar... necessidades do mundo interior.De que são nutridos o corpo e o espírito das nossas crianças? De eletrônicos caríssimos, comprados com jornadas de trabalho cada vez maiores? Não quero desesperar as mães, já tão supra-atarefadas e culpadas, sendo homem e mulher tudo junto agora, na medida do impossível. Haja chocolate!A modernidade está em débito com o feminino. A conta é cobrada em forma de confusão, isolamento, depressão, traumas, vazios, violência, obesidade, anorexia, anemia, hipertensão, diabetes.Ter uma carreira foi um desafio para nossas mães e avós. Posso imaginar como foi duro, mas seu legado chegou a nós. Encontrar sistemas de trabalho sustentáveis, que permitam à mulher equilibrar o papel feminino e masculino de acordo com seu desejo, é um dilema atual cuja solução definirá o modo de viver - e comer - das próximas gerações.Homens e mulheres não são iguais. As meninas levam a comida. Os meninos, o refrigerante.
Fonte: Guia da Semana
Postado por Fernanda Pimentel - www.viafreud.blogspot.com

A Sofrida Mente Masculina

O psicanalista Contardo Calligaris, italiano com nacionalidade americana e radicado em São Paulo, tem a receita para a mulher que quer fazer do marido o homem mais feliz do mundo: deixe o marido comprar aquela televisão enorme, compartilhe suas fantasias sexuais, incentive-o o largar o emprego e andar de moto pela América Latina. E sempre, sempre, trate-o como um super-herói. Como isso é praticamente impossível, Calligaris, autor da peça O Homem Tarja Preta, se tornou um especialista nas sofridas psiques masculinas.
Acompanhe sua entrevista a VEJA:
Do que, afinal, os homens reclamam?
O homem herdou, em especial a partir do século XIX, dois tipos de papel na sociedade. Um deles era o de provedor, representado pela figura de terno e gravata, marido e pai de família. O outro era alguém eventualmente até próximo de um criminoso. Essas duas figuras representavam quase a totalidade do leque possível da masculinidade. A partir da metade do século passado, a situação começou a mudar. O papel tradicional das mulheres passou por grandes transformações, muito antes dos homens. Elas se tornaram sujeitos jurídicos verdadeiros, não se viam mais na dependência de um casal ou de um marido. E o lugar de provedor, que até então era exclusivamente masculino, passou a ser distribuído entre homens e mulheres. O homem não se justificava mais simplesmente por ser quem dava sustento à família. E o avanço delas no campo até então masculino não parou por aí. Elas passaram a ser mães solteiras, não só por ação do destino, mas por vontade própria. Assim, outra faceta do papel do homem, o de ter e cuidar de uma família, também caiu por terra.
E todos os bons maridos e bons pais, que constroem uma vida em comum, dividem tarefas e parecem muito satisfeitos?
Os homens se adaptaram muito bem à prática de compartilhar a função de provedor com a mulher e mesmo à de dividir as atribuições materna e paterna. Os dois hoje educam e cuidam dos filhos juntos. Ela pode dar muito mais regras e instruções às crianças do que o homem, e ele pode acompanhá-las até o colégio, dois hábitos que, até pouco tempo atrás, eram feitos de maneira inversa. Evidentemente que com alguns percalços, isso tem funcionado. O grande descompasso do homem contemporâneo está em outro lugar. Para ele, mesmo que esteja empregado em um lugar bacana, que esteja ganhando tudo de que precisa e pagando todas as contas, ainda o persegue o fantasma, fruto da tradição, de que ele não está dando o melhor de si.
Continua ...
Postado por Fernanda Pimentel - http://www.viafreud.blogspot.com/