Cresci sob o paradigma do feminismo. Questionar a igualdade dos sexos seria idiota.
Dirijo um carro, comando equipes, pago contas, faço sexo, assisto futebol, troco lâmpada, fusível, disjuntor e resistência. Faço jogo político, bebo cerveja, como fritura e lavo o carro - com cera, anti-chuva, silicone e pneu pretinho.Na mitologia grega, o símbolo do casamento são duas pessoas de costas uma para a outra. Uma carrega uma espada, a outra, um espelho. A interpretação mostra que a paz de uma casa depende de dois mundos: o externo, de onde vêm as provisões e inimigos como ladrões e ameaças da natureza; e o interno, de onde vêm o repouso, a inspiração, a energia e inimigos como auto-sabotagem, conflitos e angústias. Os inimigos externos são combatidos à lança; os internos precisam ser vistos ao espelho. A despeito de todo esse significado, a espada de Hermes (Marte, para os romanos) e o espelho de Afrodite (Vênus) estampam bolinhas com setas e cruzes em portas de banheiro. E há quem diga que o espelho é o ícone da mulher por causa da preocupação com a aparência.O fato é que as mulheres - vaidosas ou não - assumiram funções masculinas. E os homens continuam homens. Enquanto ambos estão em campo, lutando pela sobrevivência, quem vigia os lares? Quem cuida do corpo, das crenças, das relações? Os inimigos internos são tão reais e perigosos como os outros e estão cada vez mais na moda.Prestei consultoria a uma super executiva recentemente. Ela trajava um vestido rosa lindo, com um laço. Um soldado de sapatilhas.Eram 22h. Havia chegado há pouco do trabalho, tão corrido que nem almoçou. Acontece muito. O marido comeu na rua. Ele nunca janta. Ninguém janta, aliás. A família, com dois filhos em fase de crescimento, nunca se reúne à mesa numa refeição caseira. Comida só na rua, só de rua. Mastigam coxinhas, salgadinhos, enroladinhos, hot pocket, pizza, japonês, chinês, bolacha e chocolate. Muito chocolate.Por milênios, a mulher teve a incumbência de preparar os alimentos e tratar da plantação. Comida é assunto de mulher. Serve para alimentar, acalentar, seduzir, acordar, relaxar... necessidades do mundo interior.De que são nutridos o corpo e o espírito das nossas crianças? De eletrônicos caríssimos, comprados com jornadas de trabalho cada vez maiores? Não quero desesperar as mães, já tão supra-atarefadas e culpadas, sendo homem e mulher tudo junto agora, na medida do impossível. Haja chocolate!A modernidade está em débito com o feminino. A conta é cobrada em forma de confusão, isolamento, depressão, traumas, vazios, violência, obesidade, anorexia, anemia, hipertensão, diabetes.Ter uma carreira foi um desafio para nossas mães e avós. Posso imaginar como foi duro, mas seu legado chegou a nós. Encontrar sistemas de trabalho sustentáveis, que permitam à mulher equilibrar o papel feminino e masculino de acordo com seu desejo, é um dilema atual cuja solução definirá o modo de viver - e comer - das próximas gerações.Homens e mulheres não são iguais. As meninas levam a comida. Os meninos, o refrigerante.
Fonte: Guia da Semana
Postado por Fernanda Pimentel - www.viafreud.blogspot.com
Dirijo um carro, comando equipes, pago contas, faço sexo, assisto futebol, troco lâmpada, fusível, disjuntor e resistência. Faço jogo político, bebo cerveja, como fritura e lavo o carro - com cera, anti-chuva, silicone e pneu pretinho.Na mitologia grega, o símbolo do casamento são duas pessoas de costas uma para a outra. Uma carrega uma espada, a outra, um espelho. A interpretação mostra que a paz de uma casa depende de dois mundos: o externo, de onde vêm as provisões e inimigos como ladrões e ameaças da natureza; e o interno, de onde vêm o repouso, a inspiração, a energia e inimigos como auto-sabotagem, conflitos e angústias. Os inimigos externos são combatidos à lança; os internos precisam ser vistos ao espelho. A despeito de todo esse significado, a espada de Hermes (Marte, para os romanos) e o espelho de Afrodite (Vênus) estampam bolinhas com setas e cruzes em portas de banheiro. E há quem diga que o espelho é o ícone da mulher por causa da preocupação com a aparência.O fato é que as mulheres - vaidosas ou não - assumiram funções masculinas. E os homens continuam homens. Enquanto ambos estão em campo, lutando pela sobrevivência, quem vigia os lares? Quem cuida do corpo, das crenças, das relações? Os inimigos internos são tão reais e perigosos como os outros e estão cada vez mais na moda.Prestei consultoria a uma super executiva recentemente. Ela trajava um vestido rosa lindo, com um laço. Um soldado de sapatilhas.Eram 22h. Havia chegado há pouco do trabalho, tão corrido que nem almoçou. Acontece muito. O marido comeu na rua. Ele nunca janta. Ninguém janta, aliás. A família, com dois filhos em fase de crescimento, nunca se reúne à mesa numa refeição caseira. Comida só na rua, só de rua. Mastigam coxinhas, salgadinhos, enroladinhos, hot pocket, pizza, japonês, chinês, bolacha e chocolate. Muito chocolate.Por milênios, a mulher teve a incumbência de preparar os alimentos e tratar da plantação. Comida é assunto de mulher. Serve para alimentar, acalentar, seduzir, acordar, relaxar... necessidades do mundo interior.De que são nutridos o corpo e o espírito das nossas crianças? De eletrônicos caríssimos, comprados com jornadas de trabalho cada vez maiores? Não quero desesperar as mães, já tão supra-atarefadas e culpadas, sendo homem e mulher tudo junto agora, na medida do impossível. Haja chocolate!A modernidade está em débito com o feminino. A conta é cobrada em forma de confusão, isolamento, depressão, traumas, vazios, violência, obesidade, anorexia, anemia, hipertensão, diabetes.Ter uma carreira foi um desafio para nossas mães e avós. Posso imaginar como foi duro, mas seu legado chegou a nós. Encontrar sistemas de trabalho sustentáveis, que permitam à mulher equilibrar o papel feminino e masculino de acordo com seu desejo, é um dilema atual cuja solução definirá o modo de viver - e comer - das próximas gerações.Homens e mulheres não são iguais. As meninas levam a comida. Os meninos, o refrigerante.
Fonte: Guia da Semana
Postado por Fernanda Pimentel - www.viafreud.blogspot.com
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