O Projeto de Implantação da Terapia Comunitária na Rede de Assistência à Saúde do SUS pretende desenvolver nos profissionais da área da saúde e lideranças comunitárias, por meios de módulos teóricos e práticos, as competências necessárias para promover as redes de apoio social na atenção primária da saúde. A proposta prevê a capacitação dos profissionais da rede básica no sentido de prepará-los para lidar com os sofrimentos e demandas psicossociais, de forma a ampliar a resolutividade desse nível de atenção.
A Terapia Comunitária é um instrumento que permite construir redes sociais solidárias de promoção da vida e mobilização dos recursos e das competências dos indivíduos, famílias e comunidades. A TC funciona como fomentadora da cidadania, restauração da auto-estima e da identidade cultural dos diversos contextos familiares, institucionais, sociais e comunitários. Favorece a promoção e prevenção da saúde e a reinserção social uma vez que propicia a expressão dos sofrimentos vivenciados nas várias dimensões da vida e que afetam diretamente a saúde das pessoas. A terapia comunitária é um exercício permanente de inclusão e valorização das diferenças.
O Projeto objetiva capacitar os profissionais da atenção básica na metodologia da TC para que possam utilizá-la em sua atuação nas comunidades uma vez que são esses profissionais que primeiro recebem e contatam com os problemas dessas populações. O levantamento realizado[1] sobre o impacto da TC demonstrou que 89 % dos participantes tiveram suas demandas atendidas nas práticas da terapia comunitárias, não sendo necessário o encaminhamento para outras instâncias de atendimento.
É de consenso que a promoção e atenção à saúde no nosso país serão tão mais efetivas à medida que esteja pautada no princípio da responsabilidade compartilhada entre governo e sociedade. A proposta deste Projeto está em sintonia com este princípio, pois prevê a atuação em parceria entre do Ministério da Saúde e a rede da Terapia Comunitária já atuante no país.
A Terapia Comunitária tem se revelado para os gestores de saúde e comunidade um instrumento de grande valor estratégico, uma preciosidade rumo à efetivação do Sistema Único de Saúde, respondendo dentro deste universo a importantes diretrizes como equidade e universalidade: grandes fontes de inclusão e cidadania.
2. O Impacto da Terapia Comunitária (TC) nas Redes de Assistência à Saúde
2.1 A TC na Estratégia Saúde da Família – ESF1
A decisão política de se reorganizar a rede de assistência à saúde através de uma política que apontasse para universalização do acesso da população brasileira à atenção básica e consolidasse o recente processo de descentralização, inaugurado com o advento do Sistema Único de Saúde (SUS), foi o norte inspirador da implantação da ESF nos mais diversos municípios brasileiros.
A introdução da Terapia Comunitária no âmbito da ESF é considerada uma medida compatível, viável e coerente com os objetivos da estratégia.
A formação das equipes de saúde da família, em especial dos agentes comunitários de saúde, para a criação de grupos de Terapia Comunitária vem de encontro a estas novas necessidades de saúde e acrescenta uma poderosa ferramenta de intervenção destas equipes na comunidade.
2.2 Rede de Saúde Mental
No Brasil, anualmente, cerca de 300 mil pessoas são internadas em hospitais psiquiátricos públicos e conveniados com o SUS, trazendo um grande custo para a sociedade. Os usuários destes serviços padecem de distúrbios relativos ao abandono, à insegurança e à baixa auto-estima.
Para enfrentar estes problemas, é necessário estimular e integrar ações e modelos que permitam investir na prevenção, desfocado da psiquiatrização e medicalização de problemas sociais e existenciais.
A Terapia Comunitária se propõe a reforçar a importância da valorização da família, reforçar a rede de apoio solidário, estimular que as pessoas cuidem mais de si e valorizar os recursos culturais locais.
A ação da Terapia Comunitária e suas Ações Complementares não serão junto à patologia psiquiátrica, que é da alçada do especialista, mas na promoção da saúde como uma ação complementar aos serviços já existentes.
2.3 Promoção da Saúde
A terapia comunitária apresenta-se como uma das estratégias de promoção da saúde mental que valoriza o saber popular, cria outras oportunidades de expressão do sofrimento psíquico, e amplia o escopo de atuação do serviço para as rodas de acolhimento comunitário. Mais do que um espaço de terapia tradicional, a terapia comunitária atua na formação de agentes comunitários para uma escuta do sofrimento e das inquietações dos indivíduos, criando um ambiente de troca dessas experiências entre os pares. Valoriza, ainda, as práticas populares, incorporando o saber das rezadeiras e benzedeiras, dos conhecimentos em remédios feitos com plantas medicinais, práticas integrativas, massoterapias e todos os saberes que foram se acumulando ao longo da história pela população local.
2.4 Humaniza SUS
O Ministério da Saúde tem reafirmado o HumanizaSUS, como política que atravessa as diferentes ações e instâncias do Sistema Único de Saúde, englobando os diferentes níveis e dimensões da atenção e da gestão.
Operando com o princípio da transversalidade, a Política Nacional de Humanização – PNH lança mão de ferramentas e dispositivos para consolidar redes, vínculos e a co-responsabilidade entre usuários, trabalhadores e gestores, diretrizes presentes na metodologia da Terapia Comunitária.
2.5 SENAD - Secretaria Nacional Anti-Drogas
A Terapia Comunitária tornou-se um instrumento facilitador na formação de redes solidárias para o enfrentamento do uso indevido de álcool e outras drogas e de problemas associados ao uso e à dependência.
Fundamentada na visão mais ampla da dependência, visa resgatar a inclusão dos sujeitos na família e na comunidade.
Esta forma de trabalho permite que se avance do modelo da assistência ao modelo das redes de solidariedade e da inclusão social.
3. Objetivo Geral
Capacitar na metodologia da Terapia Comunitária os profissionais da rede básica de saúde a fim de ampliar as possibilidades de atuação desses profissionais nas populações assistidas.
· Conteúdo programático do curso
Trata-se de um curso de capacitação profissional composto por 360 horas/aula, carga horária que confere certificação de Extensão aos profissionais, horas estas distribuídas em:
- 80 horas/aulas dedicadas aos aspectos teóricos;
- 80 horas/aulas de vivências terapêuticas, quando serão realizadas técnicas de relaxamento e autoconhecimento;
- 120 horas dedicadas à realização de práticas em Terapias Comunitárias, equivalente à condução de quarenta e oito terapias (48) como terapeutas ou como co-terapeutas, realizado nas comunidades e/ou instituições;
- 80 horas aulas de supervisão.
O curso será realizado em 8 módulos teóricos de 2 dias (compreendidos entre as sábado e domingos período integral), com intervalo de 1 meses entre um módulo e outro. A partir do primeiro módulo os alunos já estarão habilitados para iniciar a experiência em suas comunidades. O espaçamento entre os módulos permite aos participantes a prática supervisionada e uma aprendizagem que receberá reforços e supervisões periódicas.
Durante toda a formação (8 meses) os profissionais serão acompanhados por uma equipe de terapeutas comunitários certificados como formadores pela
Universidade Federal do Ceará, distribuídos pelos Pólos.
Atividade e Carga horária
Vivências terapêuticas I - 20h
Supervisão pós módulo I - 20h
12 sessões de Terapia Comunitária pós módulo I (realizadas em serviço) - 30h
Módulo teórico II - 20h
Vivências terapêuticas II - 20h
Supervisão pós módulo II - 20h
12 sessões de Terapia Comunitária pós módulo II (realizadas em serviço) - 30h
Módulo teórico III - 20h
Vivências terapêuticas III - 20h
Supervisão pós módulo III - 20h
12 sessões de Terapia Comunitária pós módulo III (realizadas em serviço) - 30h
Módulo teórico IV - 20h
Vivências terapêuticas IV - 20h
Supervisão pós módulo IV - 20h
12 sessões de Terapia Comunitária pós módulo IV (realizadas em serviço) - 30h
TOTAL - 360h
Conteúdo Programático dos módulos teóricos:
A arte de cuidar;
A trajetória da Terapia Comunitária;
Terapia Comunitária: definição, objetivos e pressupostos;
O desenvolvimento da Terapia Comunitária; conhecendo as etapas da terapia comunitária;
A terapia comunitária e seus pilares teóricos:
- Pensamento sistêmico
- A teoria da comunicação
- Resiliência: quando a carência gera competência
- Antropologia cultural
- A ação-reflexão de Paulo Freire;
O enfoque narrativo na Terapia Comunitária;
O papel do Terapeuta Comunitário;
A implantação da Terapia Comunitária: a força da comunidade;
A terapia Comunitária e políticas públicas de saúde: Promoção da vida e da cidadania;
Vivências terapêuticas: trabalhando com nossas tensões, trabalhando as preocupações da mente, trabalhando nossos centros energéticos vitais, trabalhando nossa agressividade, nossa confiança e nossa integração no mundo;
Grupo, trabalhando o masculino e o feminino, o toque no túnel da confiança, o sol e a lua;
Treinamento da prática de Terapia Comunitária.
Ao final do curso é conferido certificado desde que o participante tenha cumprido todas as exigências e mínimo de 75% de freqüência (módulos teóricos e vivências terapêuticas). A certificação ocorre no prazo máximo de 2 anos.
O desenvolvimento da prática acontece durante a formação do terapeuta comunitário. Após o término do primeiro módulo o participante, com apoio da Supervisão, passa a realizar as sessões na comunidade, onde até o final da formação deverá ter realizado cerca de 48 sessões de terapia comunitária juntamente com seu grupo.
[1] Relatório de avaliação de impacto da Terapia Comunitária enquanto recurso de prevenção do uso de álcool e outras drogas / Convênio Senad/MismecCe/UFC – 2005-2006
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