quarta-feira, 31 de março de 2010

COLETI-VIVENDO...

Secos & Molhados, começam
Rabiscos e formas se unem
Cores, som e intuição
Mãos que pintam e criam
Todos rodam
Roda o desenho, a vida
Roda o mundo.
Uma mão começa, outra termina.
Sem pé, nem cabeça
Arte é assim...
Sol, chuva, casa...
Proteção
Nome...
O que é meu,
O que é dele?
Sem pé, sem cabeça
A vida e o amor
Criação de Deus, natureza
O humano no mundo
Com-passo, e não sem passo...
Esquadro, tudo desenha...
Projeto de vida
Mas falta água pra flor.
Porém, na era do dragão,
Há força e poder divino.
Só se conhece o belo, quando já conhece o feio.
Yin-Yang, equilíbrio
Os contrários, e o movimento de vida.
A construção do amor
O anjo, a espada, as estrelas
Pirâmides do conhecimento
Da bandeira de Minas,
Liberdade mineira
Casa de cupim,
Comunidade-coletividade
Sociedade organizada
Um sonho de um homem forte
Que constrói pontes
Ponte de vida, troca e arte
Ponte entre o mundo de dentro e o de fora
A formiga sobrevivente tem família, luta.
A serpente é ligeira e vive sob a lua.
A perda compartilhada,
Vida reencontrada.
Nascimento sempre presente
Na lua, no sol,
Natureza que é renovada.
Um mundo de dois sóis
É um mundo de ilusões...
Estrelas no céu
E a de Davi na terra,
Da natividade,
Da vida,
Da renovação contínua
Da liberdade.

OFICINA DE PENSAMENTOS LIVRES,
24/03/10


O presente texto foi elaborado em conclusão aos trabalhos na OFICINA DE PENSAMENTOS LIVRES, em 24/03/10, por usuários da Saúde Mental de Araxá e profissionais.

segunda-feira, 29 de março de 2010

CRIAÇÃO


A vida pode gerar morte,
A morte pode gerar vida
Assim a circulação acontece
E eu não fico de fora dessa rotina capitalista
O sol se deita,
A lua se levanta
O dia começa
A noite alcança.
Tudo no contra, da contradição
Igual a tudo que está em cima
Está embaixo
O que está embaixo,
Está em cima
Não tem diferença
Não tem raça, nem crença
Eu só espero
Que todos possam voar antes de morrer
Se o que está velho, pode ficar novo
E o que está novo, pode ficar velho
No fim, é tudo um mistério.
Sonho ou realidade,
Mas na verdade, o que somos?
Para onde vamos?
Somos o que acreditamos,
Acreditamos no que escutamos...
Criação...
Fabiano Guimarães Dornelas

HOMEM SIMPLES

Sou um homem simples
No mundo tão moderno
Às vezes acho que estou atrasado
Outras tão adiantado
Tão confuso de mim mesmo
Não sei o que fazer,
Se vou ou se fico
Se fico ou se vou,
Na verdade, não sei quem realmente sou
Não conheço o chão que piso.
Fabiano Guimarães Dornelas

Pensamentos Livres – Poesias e Produções

Esse espaço surge a partir de uma demanda dos usuários do serviço de Saúde Mental de Araxá, como forma de expressar e criar novas possibilidades de vida e afetos, tornando públicas suas produções.
Importante dizer, que a idéia foi aprovada em Assembléia Geral de Usuários, Familiares, Profissionais, Amigos e Simpatizantes da Saúde Mental de Araxá, em 29/03/2010, constituindo-se um espaço que preza a liberdade e a livre expressão.
A temática “Pensamentos Livres”, hoje representa o nome de uma oficina de criações artísticas e literárias, demandada e criada em Assembléia pelos usuários, que objetiva o trabalho terapêutico e a livre expressão criativa, composta de diversas possibilidades de intervenções, exercendo a liberdade sobre o pensar e o criar, buscando novas potências de vida e multiplicando-as.Vale dizer, que as produções aqui postadas serão frutos de diversos trabalhos em muitos momentos, não apenas na Oficina de Pensamentos Livres, mas por vir de encontro a uma filosofia libertária dentro do viés da Reforma Psiquiátrica, e por entender que em cada abordagem e momento criativo dentro do processo de reabilitação psicossocial no serviço e fora dele, é essencial a liberdade de pensar, expressar-se, SER.
Serão aqui postadas as produções individuais, grupais, com a devida autorização de seus autores.

terça-feira, 9 de março de 2010

Conferências de Saúde Mental

Como promover a intersetorialidade na construção da IV Conferência Nacional de Saúde Mental?

Leia o texto Construindo a Interseorialidade, neste Blog, em "Leituras Diversas".

"E então, caros colegas? Como anda - ou não anda - a discussão das Conferências de Saúde Mental nos Municípios e Estados? Como vamos pensar esta construção intersetorial? Aguardamos as notícias, questões e contribuições de vocês!"

Ana Marta Lobosque
Espaço Saúde Mental - Esp

Solidariedade: Há em ti, Há em mim

Este é o tema do 18 DE MAIO
Dia Nacional da Luta Antimanicomial - 2010!

Solidariedade, um imperativo humano. Não temos tempo a perder, sejamos solidários já! Resgatemos todas as lutas dos povos contra aquilo que os oprime. Sejamos solidários com um simples gesto, lutar ao lado de quem resiste. A solidariedade, enquanto uma novíssima forma de organizar as relações, os coletivos, produção, a economia. Apostamos no ser humano.

E para ler o texto completo, com todas as informações, acesse neste Blog, o link "Leituras Diversas" - Solidariedade: Há em ti, Há em mim.

Bom trabalho e boas festas!

Abraço,

Samara.

Residência Multiprofissional em Saúde Mental da ESP-MG: a primeira em Minas!

O projeto da ESP-MG foi aprovado pela Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, do Ministério da Saúde, e pela Secretaria de Educação Superior do Ministério de Educação, segundo portaria conjunta publicada no Diário Oficial da União, de 25 de fevereiro último.
O Projeto de Residência Multiprofissional em Saúde Mental da ESP-MG, em parceria com o município de Betim, prevê 8 bolsas para residentes, das áreas de Psicologia, Enfermagem, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Os residentes desenvolverão suas atividades teóricas em 12 horas na ESP-MG, tendo por tutores profissionais do Grupo de Produção Temática em Saúde Mental da instituição; e 48 horas das atividades práticas serão realizadas nos diferentes pontos da rede de atenção à Saúde Mental de Betim, acompanhadas por preceptores da própria rede.
As atividades teóricas consistem em seminários segundo três eixos temáticos - Psicopatologia, Construção de redes em Saúde Mental, e Aspectos históricos e antropológicos em Saúde Mental, supervisões e reuniões clínico-institucionais. Em Betim, atuarão nos CERSAMs, ou CAPS, incluindo plantão semanal de 12 horas; na atenção básica, no centro de convivência e nas moradias protegidas, de forma a garantir sua passagem pelas diferentes linhas de cuidado oferecidas pela rede.
Tendo recebido a boa notícia da homolação do projeto, a ESP-MG dá início ao processo de elaboração do edital, e, simultaneamente, efetua os passos necessários para o credenciamento do projeto.
O leitor encontrará em breve, no Espaço Saúde Mental, novas notícias referentes ao assunto.

O link para o Espaço Saúde Mental-ESP, encontra-se neste Blog, no alto, ao lado esquerdo.
Abraço,
Samara.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Humildade














Senhor, fazei com que eu aceite minha pobreza tal como sempre foi.
Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter e se perdeu por caminhos errados e nunca mais voltou.
Daí, Senhor, que minha humildade seja como a chuva desejada caindo mansa, longa noite escura, numa terra sedenta e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós, minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de chão, pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo alegre da minha casa na manhã de um novo dia que começa.

Cora Coralina

Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa


(Álvaro de Campos)

Estatuto do Homem

(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony


Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:

O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964

MATERNAR e Vera Cruz

Oi pessoal,

Quem entrar nos ônibus da Vera Cruz em Araxá, certamente poderá apreciar e aprender um pouco das dicas de amamentação, selecionadas pela nossa incansável companheira e militante da causa, Angela de Ávila.
Idealizadora do Projeto Maternar, ela agora nos brinda com esta excelente idéia: levar aos 18.000 passageiros/dia, informações e dicas sobre a amamentação.

Esta iniciativa, aliada a outras ações, darão a Vera Cruz o selo de EMPRESA AMIGA DA AMAMENTAÇÃO. Este selo está sendo criado e em breve iremos entregá-lo a esta e a outras empresas também.

Abraços,

Patrícia Rachid
Coordenação Municipal de Saúde mental

Política e Subjetividade

Resenha do livro Freud e o Problema do Poder,
de León Rozitchner, SP, Editora Escuta, 1989, 189 páginas.

A relação do indivíduo com o mundo tem sido ao longo do tempo pensada por diferentes correntes teóricas. Os conceitos variam, é claro, não só dependendo do lugar teórico-político de onde falam as correntes, como também das diferentes implicações que têm com o objeto que produzem.

O freudomarxismo, através do filósofo (com prática clínica) Rozitchner, apresenta-nos a tese sobre a produção do sujeito e sua isomorfia com a estrutura social, na série de conferências proferidas no México em 1981, publicadas em Freud e o Problema do Poder (Ed. Escuta).

Aproximadamente dez anos antes, o autor escreveu Freud y los limites del individualismo burgués (Siglo Veintiuno), um dos mais significativos trabalhos realizados pelo movimento freudomarxista. Ao longo de 500 páginas, os artigos Mal Estar na Civilização e Psicologia das Massas e Análise do Ego, ambos componentes da chamada obra social de Freud, dão suporte às idéias do autor. Estas consistem em afirmar que "cada sujeito é também núcleo de verdade histórica" e que "o sistema de produção também é produtor do aparelho psíquico". Considera-se, nesta obra, que a teoria e a prática psicanalítica estariam entranhadas pela subjetividade "burguesa" e que uma leitura marxista de Freud necessariamente provocaria novas abordagens. A Psicanálise, assim, poderia evidenciar as estruturas objetivas do sistema de produção conceituadas por Marx, presentes como determinações na subjetividade dos sujeitos. Tais idéias serão expostas com clareza e síntese nas conferências ora editadas.

O freudomarxismo não teve no Brasil a repercussão que obteve na Argentina e em alguns outros países. Reich, Bernfeld, Fenichel e Fromm são alguns dos nomes associados a este movimento, embora a idéia de uma aproximação de psicanálise e marxismo tenha sido realizada de maneiras substancialmente distintas: desde uma utilização meramente formal dos discursos até a tentativa de uma construção teórico-prática. No campo da filosofia destacam-se Marcuse, Althusser e Sartre, que ressaltam tal articulação como importante para a compreensão dos processos de subjetivação.

Rozitchner estuda a problemática da repercussão na subjetividade das chamadas condições objetivas, e o que significam as condições subjetivas no desenvolvimento dos processos coletivos. Situa o problema do poder, portanto, na intrínseca relação co-determinante do indivíduo e do coletivo. Aponta que, em geral, estes dois pólos estiveram separados na análise das diferentes perspectivas teórico-políticas ou, quando muito, pensadas numa relação que estabeleceria pontos de contato mas garantiria suas formas próprias de produção.

O autor investiga primeiramente o processo de interiorização do poder na formação do sujeito. Sustenta a tese de que Édipo será a primeira "forma" subjetiva, e que só podemos entendê-lo através do Édipo coletivo/histórico. Encontra em Psicologia das Massas e Análise do Ego a evidência do poder individual debatendo-se na abertura para o poder coletivo. O drama do enfrentamento da criança com as normas surge sob a forma de um duelo; só a partir da negação do próprio desejo, poderá incluir-se na cultura. A "solução" do complexo de Édipo organiza uma consciência que não tem consciência de sua origem, posto que a ordem social oculta no sujeito o lugar onde se implanta. Esta "saída" infantil – saída em falso – resultaria em submissão à lei e interiorização de um poder despótico, que persistiria como forma matriz da organização individual dentro das instituições. Rozitchner diz que Freud "está fazendo uma psicologia como ciência histórica": "A história, em seu sentido amplo, começa em uma rebelião coletiva pela liberação dos submetidos". O autor retoma, também, a noção de riqueza para Marx, entendida como a produção de novas capacidades, poderes de produção e prazer. Esta noção seria desvirtuada na suposta universalidade objetiva de intercâmbio de mercadorias. O fundamento produtor dos indivíduos traria o sentido de cooperação, princípio também da ordem histórica. O conteúdo e as formas organizadoras do aparelho psíquico dependeriam da forma social que o produz. A recuperação deste poder expropriado, assim, seria fundamental para transformar qualquer processo histórico, através do retorno às fontes do poder social, onde o descobrimento do coletivo/individual, necessariamente, suscitaria a transformação pessoal dos sujeitos.

A formação de representações que constituem subjetivamente o campo da consciência e da subjetividade, diz Rozitchner, concede a possibilidade de nos referirmos a ela distanciando-nos e ocultando-nos da sua origem. Sustenta-se, assim, verdades construídas/produzidas, naturalizadas. Lembrando que a mercadoria, enquanto valor, é fetiche, posto que parece que o contém em si mesma, reafirma que é o poder despótico, seu lugar simbólico e o campo do imaginário que permitem sua instalação, sendo absolutamente fundamental tal desvendamento.

O autor aborda o tema, ainda, utilizando sua experiência no processo político argentino, concluindo que o "psicanalista não pode ser psicanalista e político, mas necessariamente um psicanalista-político".

Poderíamos considerar que a proposta de Rozitchner não tenta integrar os dois saberes em que se apóia, pelo menos no sentido de uma descaracterização epistemológica. Por outro lado, suas postulações "isomórficas" indicam uma busca de equivalência na co-determinação do psiquismo e do social.

Ao trabalhar a concepção de poder, Rozitchner fará algumas referências à obra de Foucault. Entretanto, se em alguns momentos trabalha com a idéia de corpo submetido e disciplinado onde a dominação se inscreve (referência à noção de poder disseminado), em outros, mantém a análise das relações de poder como estando localizada no aparelho de estado, imposta ao coletivo via identificações/ideologias. Ele atribui, então, poder "macro" ao coletivo e poder "micro" ao individual. Cabe esclarecer que a noção de micropoder em Foucault não relaciona poder com lugar.

Outras leituras podem sugerir diferentes análises sobre a questão da subjetividade. Guattari, por exemplo, considera que a psicanálise, mantendo a concepção de neutralidade, acaba por consolidar certas produções de subjetividade. Mais, que certas elaborações psicanalíticas seriam um modo de pensar uma das formações do inconsciente, conceito que a própria psicanálise produziu, mas jamais comporiam uma teoria geral sobre o inconsciente. Ao invés de tomar o conceito de ideologia, o substitui pela noção de produção de subjetividade, porque a questão para este autor não é apenas a de uma transmissão de significações por meio de enunciados, nem a adoção pura e simples de modelos de identidade ou identificações. Tratar-se-ia de sistemas de conexão direta entre diversas produções e a instância psíquica. Nesse sentido, tanto os marxistas como os psicanalistas são criticados, posto que as mutações da subjetividade não ocorreriam somente no registro ideológico ou edípico. Nem produção econômica, nem economia libidinal: Guattari enuncia a economia coletiva do desejo, atravessado por uma multiplicidade de produções que se revelariam em cada acontecimento, singularmente.

Certas questões ainda se colocam diante do freudomarxismo. Uma integração teórica, certamente, conduziria à descaracterização das teorias envolvidas. O que não é necessariamente um ultraje, ainda mais se a construção teórica que se segue é interessante e útil. Preservá-las, conservando suas conceituações, acabaria por manter lacunas, segundo o próprio freudomarxismo. Articulá-las, como pretende o autor, coloca um grave problema de teorização, ali onde a prática exige maior precisão; o que poderia explicar, sem necessariamente justificar, o abandono do freudomarxismo por parte de psicanalista que se afirmam marxista.

A noção de verdade, a perspectiva essencialista, os marcos interpretativos positivistas constituem parte de uma problemática complexa para aqueles que ressaltam as contribuições significativas do movimento freudomarxista.

A contribuição central deste último foi ter suscitado uma análise das instituições burguesas, do fascismo, e ter questionado a prática psicológica apolítica. Trouxe influências ainda, para que a partir de "maio de 68" não se pudesse ignorar com facilidade a política do desejo.

A importância da ordem histórico-social e sua relação com o inconsciente, ressaltada pelo freudomarxismo, a noção de subjetividade e a de transversalidade em Guattari, a redefinição de poder em Foucault, e ainda outras idéias, como os conceitos de implicação advindos da socio-análise e o de imaginário social em Castoriadis, apontam para uma "nova" clínica: a clínica onde as forças presentes no inconsciente constituem necessariamente um campo de análise mais amplo do que o da análise do inconsciente edípico. Uma teoria que ainda está para ser escrita, uma prática com muitas indagações.

Maria Beatriz de Sá Leitão
Psicanalista e Analista Institucional.
Co-autora dos livros:
Práticas Grupais (Campus, 19) e Grupos:
Teoria e Técnica (Graal, 19).

Regina D. Benevides de Barros
Professora do Departamento de Psicologia da UFF
e Analista Institucional.
Co-autora do livro: Análise Institucional no Brasil
(Ed. Espaço e Tempo).



segunda-feira, 1 de março de 2010

IV CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL – INTERSETORIAL (Atualizações)

MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE
DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS
AREA TÉCNICA DE SAÚDE MENTAL

Mensagem Eletrônica Circular nº. 05 / 2010 Em 25 de fevereiro de 2010

Para:

Coordenadores Estaduais de Saúde Mental
Coordenadores Municipais de Saúde Mental
Consultores

Assunto: IV CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL – INTERSETORIAL (IV CNSM – I) – 2º. Comunicado CNSM/MS

Prezados (as) coordenadores (as) e consultores (as):

Esta circular tem a finalidade de atualizar as informações sobre a IV Conferência Nacional de Saúde Mental - Intersetorial, cuja convocação foi objeto da Resolução nº 433 de 14 de janeiro de 2010, aprovada pelo Plenário do Conselho Nacional de Saúde – CNS e homologada pelo Ministro da Saúde, conforme publicação no Diário Oficial da União, no dia 08.02.2010.

2. Em 09.02.2010, o regimento foi aprovado no Pleno do Conselho Nacional de Saúde, assim como a composição da Comissão Organizadora, que realizará a sua primeira reunião nos dias 4 e 5 de março (Anexo I).

3. Nessa reunião será aprofundado o temário central da IV CNSM, nos seus subeixos e definida a composição das comissões de Programação, Comunicação Social, Articulação e Mobilização, Logística e Infraestrutura e Relatoria, a partir da distribuição dos representantes das instituições que compõem a Comissão Organizadora.

4. Em relação ao Temário (Art. 8º. do Regimento), com o Tema Central “Saúde Mental, Direito e Compromisso de Todos: Consolidar Avanços e Enfrentar Desafios”, cabe aos coordenadores contribuir decisivamente para o debate dos três eixos temáticos:

I- Saúde Mental e Políticas de Estado: pactuar caminhos intersetoriais

- eixo da política e da pactuação setorial e intersetorial

II- Consolidar a rede de atenção psicossocial e fortalecer os movimentos sociais

- eixo do cuidado, da rede, e de sua articulação com os movimentos sociais e o protagonismo dos usuários

III- Direitos humanos e cidadania como desafio ético e intersetorial

- eixo da intersetorialidade.

5. Como pela primeira vez realizaremos uma Conferência Intersetorial, é fundamental a articulação com os parceiros locais de outros setores, desde o início do processo de organização das conferências, sejam elas municipais e/ou regionais ou estaduais. Lembramos que os delegados devem ser distribuídos em 70% do setor saúde e 30% outros setores (direitos humanos, assistência social, educação, cultura, justiça, trabalho, esporte, entre outros).

6. Conforme o regimento da IV CNSM–I, as Secretarias de Saúde, por meio de suas Coordenações de Saúde Mental, terão papel fundamental na organização das conferências Municipais e/ou Regionais e Estaduais, em estreita articulação com os respectivos Conselhos de Saúde.

7. Reforçamos a necessidade dos gestores de saúde mental somarem esforços para a mobilização de profissionais, usuários, familiares e parceiros intra e intersetoriais, para atualização do debate político sobre os avanços e desafios no campo da saúde mental pública.

8. Cientes da intensidade do processo de mobilização e viabilização das Conferências, esta Coordenação define os assessores a seguir, como referências para a IV CNSM – I: Cristina Hoffmann, Karime Porto e Taciane Monteiro, que podem ser contactadas através de seus endereços eletrônicos ou do endereço ivconferencia.ms@saude.gov.br. Conforme informado na circular anterior sobre a IV CNSM-I, de 24/12/09, a CNSM designou a consultora Sandra Fagundes como interlocutora junto ao CNS e responsável pela condução das articulações setoriais e intersetoriais para construção da Conferência, integrando a Comissão Organizadora.

9. Acompanhe informações sobre a IV CNSM-I pelos sítios www.saude.gov.br/saudemental e http://conselho.saude.gov.br/. Em caso de dúvidas, envie e-mail para ivconferencia.ms@saude.gov.br

10. Em anexo enviamos: a) Resolução do CNS nº 433, homologada pelo Ministro da Saúde, b) Regimento Interno, com a tabela de distribuição dos delegados estaduais, c) Circular 53/2009, de 24/12/09.

Cordialmente,

PEDRO GABRIEL GODINHO DELGADO
Coordenador da Área Técnica de Saúde Mental
DAPES/SAS/MS