PREVENÇÃO DO USO CRÔNICO
Lembrar sempre o óbvio: um paciente só começa ou continua a usar estes fármacos, a partir do momento em que um médico os prescreveu para ele, ou acatou o pedido de continuidade do usuário que já chegou ao consultório fazendo uso deles.
Estes medicamentos são comumente usados como panacéia universal para problemas e dificuldades que fazem parte da vida humana.
Portanto, só se deve introduzi-los ou mesmo mantê-los quando há real necessidade clínica.
Continuando a prescrever estes fármacos indiscriminadamene, o médico e a equipe de Saúde estão perpetuando um grave problema de Saúde Pública.
Os benzodiazepínicos causam dependência.
Os benzodiazepínicos e os antidepressivos, usados inadequadamente, instalam os usuários na posição de “doentes”, acarretando graves prejuízos subjetivos, sociais e profissionais para suas vidas.
Não devem nunca ser prescritos para resolver a sensação de angústia e impotência do médico, ou causar uma falsa satisfação no paciente.
Só se prescrevem estes medicamentos quando a depressão, a ansiedade, a insônia e outros sintomas forem inabordáveis por outros meios, e verdadeiramente insuportáveis para os paciente.
Caso se opte pela prescrição, esta deve ser precedida e acompanhada pela escuta, estabelecimento do vínculo e responsabilização de cuidados.
Estes fármacos devem ser “receitados com uma mão e retirados com a outra”:
O paciente deve ser prevenido das vantagens limitadas do fármaco, e de suas desvantagens.
Deve estar ciente do caráter temporário do seu uso.
O médico deve planejar de antemão sua estratégia futura de retirada destes fármacos
ABORDAGEM DO USO CRÔNICO
A nossa meta é dupla:
Diminuição gradual da medicação.
Modificação da relação do paciente com os medicamentos, com os médicos e com o serviço de saúde.
Geralmente, estes usuários se acostumaram a ter uma relação mecânica e utilitária com os profissionais e serviços de Saúde: procuram-nos essencialmente em busca de uma receita.
Costuma ser uma grata surpresa para o usuário perceber que o médico pode não ser um mero fornecedor de receitas, mas sim alguém que acolhe, escuta e prescreve corretamente.
Para estabelecer esta relação em novas bases, é inútil interferir de forma apressada e autoritária em prescrições já utilizadas há anos pelo paciente.
As modificações devem ser feitas depois que um vínculo mínimo de confiança for estabelecido.
Importa saber como, quando e por que o paciente começou o uso destes fármacos, sem contentar-se com explicações vagas do tipo “depressão” ou “nervosismo”, e relacionando-o às circunstâncias de sua vida.
O paciente deve ser alertado (mas não ameaçado!) sobre os danos e riscos que o uso prolongado destes medicamentos lhe traz.
Pode-se então obter seu consentimento para iniciar a redução das doses.
Esta redução deve ser feita de forma gradual e progressiva, ao longo de várias consultas.
Em caso de doses abusivas, porém, a intervenção deve ser imediata.
É mais fácil reduzir ou mesmo suspender os antidepressivos (embora muitos pacientes insistam em uma “dose residual” dos mesmos, sobretudo pelo efeito ansiolítico e/ou sedativo).
A redução e suspensão dos benzodiazepínicos é mais difícil, requerendo técnicas do tipo: de 2 cp por dia para 1 ou 1 mais ½ por dia; de 1 numa noite, ½ na subseqüente, novamente 1, novamente ½, etc; depois, ½ à noite; depois, ½ uma noite sim, outra não, etc.
Deve-se ter em mente não o objetivo moral de suspender uma droga, e sim o objetivo clínico de uma vida mais saudável para o paciente.
Por vida mais saudável, entende-se não apenas uma vida mais higiênica (dietas, caminhadas, suspensão de remédios inúteis), mas, sobretudo, com possibilidades e horizontes maiores.
Um “projeto de vida” falta à maioria destes usuários. Podemos ajudá-los nesta construção.
A vinculação com o médico ou enfermeiro da equipe do PSF, e o atendimento individual, são importantes neste processo. Contudo, quando nos limitamos a isto, continuamos a medicalizar os problemas destes usuários.
É indispensável, portanto, reconstruir com eles um lugar na comunidade, que não seja o do “doente” ou do “afastado do INSS”.
As atividades coletivas são fundamentais neste processo, “saindo da rotina” da unidade básica.
Estas atividades não devem ter caráter essencialmente pedagógico ou informativo, e sim propiciar a criação de laços entre usuários e equipe, entre os próprios usuários, e principalmente, entre usuários e comunidade.
SUGESTÕES:
· Grupos de discussão sobre o uso destes fármacos, em que as pessoas possam trocar experiências a respeito.
· Atividades culturais (promoção de debates, filmes, palestras, etc, que digam respeito sobretudo à condição da mulher).
· Atividades de lazer (passeios, caminhadas, festas, lanches, etc).
· Parcerias intersetoriais.
Não têm como objetivo “mandar embora” o usuário do centro de saúde, e sim, descobrir e construir com ele outros lugares mais interessantes e saudáveis para freqüentar.
Procuramos, assim, fazer daqueles pacientes “que não saem do centro de saúde”, sem saber bem o que querem ali, usuários solidários, respeitando horários e prioridades, bem vinculados às suas equipes e aos tratamentos e atividades propostos - que incentivam em suas vidas a dimensão do futuro.
Linha Guia de Saúde Mental
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