"...Para que alcances las estrellas, para que tus suenos se cumplan, sólo tienes que desearlo de corazón, con todas las fuerzas de tu alma y luchar, luchar sin desmayo para conseguir lo aunque no llegues a la cima, el paisaje que se divisa desde la montana, también es hermoso."
Che Guevara
Caros amigos,
Fui demitido da função de médico-psiquiatra de nosso município (Frutal). Apesar dos inúmeros avanços obtidos até o momento, que passa pela ampliação do acesso à Saúde Mental pela população, com nossa ida para os ESFs (Estratégia Saúde da Família), inclusive em Aparecida de Minas. Redução de 20 internações psiquiátricas/ano para zero em 2008. Atendimento em grupo, modelo incentivado pelo Ministério da Saúde, com o intuito de ampliar o acesso, promover trocas sociais, difundir a solidariedade entre seus membros. Cuidado intensivo das pessoas mais graves com o fortalecimento e credenciamento do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Participação em eventos científicos no Brasil e Exterior, onde trocávamos experiências, com o relato do que vinha sendo produzido no nosso Serviço. Seminários realizados em nossa cidade, com convidados reconhecidos como referência da Reforma Psiquiátrica, onde discutíamos os caminhos e desafios da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Ações junto à comunidade promovendo a integração da nossa clientela, por tantos anos excluída, como a Abertura do Carnaval, A Semana da Luta Antimanicomial, Festa Junina na rua. Investimento na formação da equipe do CAPS e do ESFs com aulas e discussões, muitas delas promovidas e dadas por mim. Conquista da supervisão clínico-institucional, com projeto enviado e aprovado com elogios pelo Ministério da Saúde. Visita ao Hospital Geral como uma tentativa de sensibilização das equipes da importância do acolhimento dos portadores de sofrimento mental em crise. Curso de capacitação para os médicos plantonistas, criação de protocolo para o atendimento das emergências psiquiátricas e muitos outros benefícios levados à população da nossa cidade. Mas, infelizmente, numa visão torpe e equivocada, muito distante da Saúde Pública, o que realmente interessava era agir na velha lógica do INAMPS, problema-solução. Priorizar “emergências”, em detrimento de uma construção de rede plural e forte. No entanto o que se buscava era evitar situações de emergência. E os próprios resultados de uma rede forte e plural que se tentou implantar indicam que esta estratégia foi bem aplicada, pela redução substancial das internações psiquiátricas da clientela psicótica, bem como dos episódios de crise. Recebendo elogios da referência em Saúde Mental de Uberaba, pois Frutal deixou de ser um problema e passou a ser exemplo a ser seguido pelos demais municípios. Todos esses avanços não seriam possíveis sem o trabalho da companheira Arlete, guia de todas essas transformações, dos companheiros do CAPS, bravos lutadores em defesa da Reforma Psiquiátrica, das equipes de ESFs, que apesar das dificuldades sempre as enfrentaram com muito afinco, dos colegas médicos e demais trabalhadores da Saúde, que mesmo com algum estranhamento, souberam ouvir e ajudar a cuidar de uma clientela, que segundo dados do Ministério da Saúde, chega a 25% da população geral. Penso que construímos algo e torço para que recuos não sejam estimulados. Continuarei a militar na Saúde Pública, apesar de agora não mais estar nos equipamentos de Estado. No final de novembro, será inaugurado um Instituto de Saúde Mental, Instituto Gregório Baremblitt, para o qual trabalhei, juntamente com outros bravos lutadores, Arlete, Bernardino e Simone, e que enfim se tornará realidade. O Instituto atuará precipuamente na promoção de atividades e assistência à clientela de baixa renda.
Como diria Che, “Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera”.
Com carinho, Celso.
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