domingo, 13 de junho de 2010

SAÚDE MENTAL EM ARAXÁ E OS DESAFIOS DE UMA CAMINHADA

Axará é uma cidade pioneira, e feita de lutadores... A saúde mental, composta de sonhos e resistência, desenha no ar da vida desta cidade, ternura, acolhimento e inclusão social...
A saída da companheira Patrícia Nacif é motivo de dor e compreensão, para todos que lutam pela Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Dor pelo seu trabalho, pela sua persistência, pela sua dignidade e pela sua resistência e sonhos.
Muitos crerão que faltou resiliência... Termo útil e perigoso.
Resiliência é a capacidade de recompor-se, portanto, na vida, há momentos que ser resiliente é adaptar-se e retomar a forma perdida nos atropelos da vida; e isto, é útil, desde que não um modo de se acomodar diante das necessidades de resistência.
Há hora que somos chamados a anunciar e denunciar as necessidades de mudanças.
Então, resistimos...
Resistir é desvelar as pedras e espinhos que impedem a caminhada e reafirmar os passos da caminhada, dos nossos sonhos, dos nossos princípios, das nossas idéias e ideais...
A resiliência que cala, acomoda-se, acovarda-se diante das lutas necessárias à caminhada, não é saúde, é mero oportunismo e subserviência.
A resistência é profética.
Anuncia o novo necessário...
Denuncia a opressão, a exploração, o cinza no céu que impede o brilho do luar e a chegada do alvorecer...
A saída da companheira é ato de resistência...
Nele, somos chamados a ver...
Nele, somos convocados a entender...
Nele, somos acordados por um clamor...
Vemos que é necessário sem onipotência seguir, superando os entraves por ela revelados e reafirmando seu clamor...
Façamos a Reforma Psiquiátrica...
Com liberdade e justiça, com respeito e solidariedade.
O manicômio é lugar de silêncio; a reforma, o lugar da palavra.
Não se avança no processo de construção da inclusão social e do acolhimento terno e amoroso aos portadores de sofrimento mental, sem um dispositivo vivo e atuante de mudança.
Todos são peças deste dispositivo que permite que sonhos encontrem pontes para florir os caminhos.
A carta da companheira Patrícia Nacif pontua os pontos de estrangulamento que estão gerando as dificuldades da caminhada.
Escutemo-los...
E respondendo-os com decisão clara e digna, ante as necessidades da Reforma Psiquiátrica em Araxá, veremos que o sol voltará a clarear os horizontes, e a construção do CAPS-ARAXÁ e da saúde mental na atenção básica, refletirão o que pode uma cidade que é feita de ternura e valentia, onde o barro cura, os tachos dulcificam e as cantigas de esperança alimentam a confiança de sua gente no homem e na vida.

Jorge Bichuetti

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