sexta-feira, 24 de abril de 2009

Maldade Não é Loucura

Coisa difícil é conseguir que o grande público diferencie perversão de loucura. Uma amiga me ligou outro dia para falar disso. A novela tem ajudado muito quando coloca um personagem psicopata, a Ivone e dois personagens esquizofrênicos, o Tarso e o Ademir. Dá para ver a diferença. Contudo, no caso do Monstro da Áustria, a situação fica complexa quando a sentença de prisão perpétua deverá ser cumprida em uma instituição psiquiátrica. Esse homem que enclausurou a própria filha para submetê-la aos seus desejos e caprichos; que deixou um filho-neto morrer; que conseguiu burlar tudo e todos, talvez com a conivência da esposa, e teve sucesso em manter um confinamento por mais de duas décadas... Esse homem tem uma enorme capacidade de dissimulação, é pragmático, racional, sistemático, organizado, extremamente hábil e ignora a dor dos outros. Esse homem não é louco. Ele é mau, é perverso. Um psicótico não tem essa capacidade de articulação e pragmatismo, exatamente porque no momento da loucura ele está fora de si, dominado por sintomas. Muito difícil é que um louco consiga não mostrar que está louco. Uma psiquiatra que avaliou Josef Fritzl depôs sobre seu comportamento violento e perverso e não atestou doença mental. Ainda assim, esse homem irá cumprir pena numa instituição para doentes mentais. O Monstro da Áustria não é um monstro, ele é um ser humano. Ele é mau, mas é humano. Seres humanos como ele e tantos outros demonstram a existência de um potencial terrível na condição humana. Como Freud diz, a pulsão de mais difícil controle é a pulsão perversa ... A civilização serviu para o controle das pulsões. Hoje em dia estamos em crise no que diz respeito a isso. Na pós-modernidade, as pulsões perversas estão encontrando muito pouco freio. Desumanizar Josef Fritzl ou mandá-lo para uma instituição psiquiátrica reforçando um imaginário social que associa maldade à loucura em nada ajuda a humanidade a encontrar nele um exemplo que exige muita, mas muita reflexão!
Postado por Patrícia C. Schmid

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